sábado, dezembro 31

Torres Ribeiro

Ana Clara,
Clara Ana,
Claríssima,
Aníssima,
Claro que é Ana,
Ana que é Clara,
Que clareia,
Que elucida,
Que apaixona.

Clarana,
Serás Ana e Clara
E do mais,
Apenas será
Como a vida a moldar -
Sem idealizações.

Porém, se fores clara
Como a Ana Clara,
Moldarás a vida
E as pessoas que por ti passarem,
Com a claridade de tua alma,
Idealizada por mim, é claro,
Que por mais que tente,
Sou humano.

quinta-feira, dezembro 29

Aprendizado

Procuro na gritaria noturna, mascarada pelo silêncio que chamam de calada, uma pequenina explicação pras doenças da alma e do ego a que todos estamos vulneráveis, mas que poucos querem(os) admitir. Não admissão que agrava o estado clínico, pois a falta de diagnóstico agrava a doença pelo fato de lidarmos com os nossos defeitos da mesma forma doentia e defeituosa que os causaram. Não saímos do ciclo vicioso, não aprendemos nada com o que se passa.

Por vezes, me sinto surdo. Parece que não ouço ninguém, a não ser a mim mesmo. Outras, parece que ouço demais. Pertenço ao mundo que critico, ao mesmo tempo em que pertenço ao mundo que amo. Colaboro com o mundo que critico, mas também sei que luto pelo mundo que amo. Não aprendi a lidar com a minha ambigüidade.

Quero gente, amar gente, largar esse amor platônico e doentio que só sabe idealizar personagens de contos de fadas. Tenho a convicção de que me aceitarei muito mais como gente, ambíguo que sou, quando minhas paixões, amores e até desamores, forem gente ao invés de mocinhos e vilões.

Sim, sentirei falta do amor rasgado, inexplicável, apesar de tentar empalavrá-lo o tempo todo, sem fechar a minha matraca, racional que sou. Foi-me útil por mostrar que o sentimento é meu, direcionável para pessoas diversas, porém específicas.

Mas preciso me desvencilhar do que me foi útil. Quero encontrar pessoas para me aceitar como tal e, quem sabe, parar de escrever bobagem.

quinta-feira, dezembro 22

Mudo

Me impressiono neste momento da vida, linha tênue que divide o menino em dois, com dois tipos de coisas: as que estão mudando e as que não estão mudando.

As que não estão mudando talvez seja o eu, que procuro há tanto tempo, nesse emaranhado da vida, que nos confude com o que gostaríamos de ser.

E ser é o que gostaria(mos) de ser.

Eu amo tudo o que foi

Tudo que já não é,
A dor que já não me dói,
A antiga e errônea fé
O ontem que dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi e voou
E hoje é já outro dia.

(Fernando Pessoa)

terça-feira, dezembro 20

Azedou

Eu sei, foi um doce te amar
O amargo foi querer-te pra mim

(Rodrigo Amarante adaptado)