quinta-feira, dezembro 30


Isso também veio junto Posted by Hello

Peixes Posted by Hello

Esperando o peixe ser jogado no mar Posted by Hello

O enjoado Posted by Hello

O fotógrafo Posted by Hello

Nascer do sol em alto mar Posted by Hello

Antes de partir Posted by Hello

The king of the world Posted by Hello

Os tripulantes do Agatha Posted by Hello

quarta-feira, dezembro 22

A visão clara na escuridão da cabine do Agatha

O entusiasmo inicial era enorme, a oportunidade de viver uma experiência nova tinha um sabor especial. Haveria, certamente, sentimentos novos e inesperados, e é isso que faz todo esse turbilhão da vida valer a pena. Pode parecer redundante, mas nós realmente esperávamos por sentimentos inesperados. Tudo isso era suficiente para superar o cansaço de um dia inteiro de entrevistas, apresentação de monografia, 3 horas de viagem, além de uma noite mal dormida, fruto do embarque cancelado do dia anterior.

Depois de um curto período de espera, atenuado pela conversa agradável com o ex-pescador já conhecido, foram chegando os pescadores um a um. O primeiro a chegar foi o mestre, o patrão de pesca, o responsável por um dos barcos que iriam embarcar. Sério, fechado, soltou pouquíssimas palavras e tinha um olhar desconfiado. Sentou-se e ouviu muito mais do que falou. Em seguida, chega seu irmão, que pouco lhe parece, fala um pouco mais e parece menos desconfiado. Junto, chega um outro irmão, bem mais parecido com o primeiro. Fisicamente apenas. Gosta de falar, rir, contar piadas e fez com que nos sentíssemos um pouco mais à vontade. Depois de um tempo, surgem os outros dois que faltavam, um deles seria o responsável pelo outro barco e o outro é um pescador recente, não mais de 3 anos.

O time estava formado, não havia falta de remédio que fizesse com que não entrássemos naquele barco. Confesso que, a princípio, julgamos ser bem mais fortes e resistentes do que realmente somos, mas isto é um detalhe. Detalhe que proporcionou algumas reflexões e os tais sentimentos inesperados. Não falo apenas do enjôo, que nesta altura, todos já devem saber. Falo de alguns sentimentos surgidos na quente cabine escura do barco Agatha.

Entramos no barco de uma forma diferente de todos os outros, pois acreditaram que seria mais seguro que não pulássemos da forma que fizeram. Embarcamos por volta de 1 da manhã, o mar parecia tranqüilo e no começo acreditamos que seria fácil passar 12 horas no barco com nome de escritora. Sugeriram que cada um ficasse em um barco, devido ao espaço, mas como não se opuseram, preferimos ficar juntos, pois na verdade, toda a segurança já comentada, era pura fachada. Sabíamos dos riscos e gostaríamos de contar um com outro.

O barco já andava quando conhecíamos suas instalações. Pouco conheço, não tinha como comparar ou opinar, mas sei que meu companheiro, como engenheiro naval, percebeu que a segurança não era das maiores.

Na primeira pausa de um dos pescadores, a do irmão que pouco parece com os outros dois, perguntamos se poderíamos gravar uma conversa. Explicamos nosso projeto e fizemos algumas perguntas previstas. Outras foram mais informais, o pescador parecia gostar de ser ouvido, ter suas opiniões gravadas. Vestido com a camisa do atual prefeito eleito da cidade parecia ter orgulho do irmão sério, mestre do barco. Revelou nesse papo a dificuldade enfrentada pelos pescadores da região. Diminuiu o peixe, aumentou o número de pescadores e os atravessadores (termo usado por ele) fazem com que o preço caia cada vez mais. No meio da conversa, o mar mostrou a que veio. Não conseguimos mais falar, tentei ficar em algumas posições diferentes, mas em menos de 10 minutos, passei mal pela primeira vez. Espero, ao menos, que tenha alimentado os peixinhos. Logo em seguido, meu grande companheiro não resistiu às ondas intermitentes.


Não demorou mais de 15 minutos e forneci mais comida aos pobres coitados dos peixinhos, que logo seriam mortos pelos trabalhadores. Essa me derrubou. Sentado no convés, não vi o momento que a rede foi atirada ao mar e só conseguia pensar que a pesquisa estaria comprometida e que eu ainda estaria ali por volta de 10 horas.

Não queria incomodar, recusei as propostas iniciais de dormir na cabine e fui deitar no convés, ao ar livre. Meu companheiro logo se juntou e percebemos que deitados não ficaríamos enjoados. Mais algumas propostas para dormir na cabine foram recusadas até que recebemos das mãos do mestre de poucas palavras um cobertor, começava a fazer frio. Em seguida, o irmão com a camisa do prefeito, surge com um colchonete para que deitássemos lá fora, já que não queríamos incomodá-los na cabine. Fiquei realmente surpreso. Os olhares desconfiados iniciais deram lugar a demonstrações de carinho e preocupação.

Conseguimos ficar lá até que começou a chover, não tínhamos mais como recusar o convite da cabine. Ao levantar em direção à cabine, mais um enjôo, mais uma leva de alimentos para os peixes da região de Macaé.

Depois de um pequeno período na chuva, com a cabeça para fora do barco, entrei na cabine e encontrei meu amigo deitado no chão, próximo ao motor do barco. Preferiu ficar ali, deixando reservada para mim uma cama, um tanto quanto mais confortável do que o chão duro e quente, devido à proximidade do motor. Meu estado não era dos melhores e não permitia que recusasse um agrado desses. Subi na cama com a condição de que trocaríamos de lugar durante a noite.

Dormi por umas 3 horas e, ao acordar, tentei convencê-lo a trocar de lugar comigo. Foi em vão, após algumas tentativas frustradas, tentei relaxar e aceitar. Tenho dificuldades em aceitar as coisas, mas tenho tentado, é um processo longo. Não voltei a dormir logo, passei a refletir sobre o que estava vivendo. A princípio, a certeza de uma amizade pra vida toda. Algumas pessoas podem até duvidar, achando que “vida toda” é um conceito exagerado demais, mas, definitivamente, estas pessoas não entendem que alguns gestos são gestos para a vida toda, por mais que sejam momentâneos. Sugiro que experimentam tais sentimentos, que cada abraço dado seja pra vida toda, que cada beijo seja pra vida toda, que cada gesto seja pra vida toda. Assim, entenderão o que quero dizer. Aquele foi um gesto pra vida toda de um cara que naquele momento foi meu amigo pra vida toda.

Olhei um pouco em volta e vi que os outros dois pescadores dormiam também. Apenas o patrão de pesca continuava acordado, atento o tempo inteiro, distraído apenas por um rádio de segurança que ficava na sua cabine. Neste momento tentei ouvir um pouco o que era falado no rádio, percebi que os pescadores comunicavam-se entre si e, o mais curioso, contavam histórias mirabolantes, história de pescadores. Queria poder levantar pra conversar com ele, ouvir um pouco daquelas histórias, mas a certeza de que passaria mal, me fez desistir.

Não cheguei a ver o barco parar por nem um minuto. Dormi mais um pouco e por volta das 5 da manhã, acordei e percebi que o meu companheiro não estava na cabine. Lembrei da idéia de vermos o nascer do sol em alto mar e tentei acompanhá-lo. Não durou mais de 10 minutos para que eu desistisse devido a mais um enjôo causado, o quarto, não percam as contas. Esse foi definitivo, e por mais que estivesse perdendo uma oportunidade única, decidi que não levantaria mais da cama.

Perdi o nascer do sol, perdi as entrevistas, perdi as histórias interessantes, não vi o peixe chegar por volta das 8 da manhã. Mas ao mesmo tempo ganhei coisa demais. A experiência vivida, os gestos de carinho e amizade, um sentimento muito bom me fazia esquecer o meu estado físico deplorável. Por volta das 10:40, levantei mais uma vez, estávamos chegando. Mais uma trapalhada, o cano de descarga estava exposto e depois de todo o cuidado durante a noite, queimei a mão durante o dia. Não importa também.

O dia estava bonito demais, os pescadores separavam os peixes, jogavam fora os que não serviam. Muitos morriam, a pesca de pareja é predatória. Ao menos, as gaivotas se alimentavam deles, fazendo um espetáculo belíssimo no céu.

Passamos um pouco mais de 10 horas no barco e pudemos sentir na pele um pouquinho do que alguns pescadores que ficam 10 dias em alto mar sentem. Bem pouco, claro. As condições de segurança do barco são precárias, não há banheiro e é muito arriscado usar o mar como banheiro, já que o barco balança muito.

No final, nos ofereceram camarão e diversos peixes. Preferimos aceitar apenas os peixes, que não seriam custosos para eles. Levamos 5 peixes e uma experiência única em nossas vidas. Saímos cansados demais, porém com uma bagagem muito maior, embora nossas mochilas tenham continuado com o mesmo peso.

Por fim, um comentário importante:

O dono do barco não foi pescar. E metade de tudo era dele!

segunda-feira, dezembro 13

Ainda sou

Jurava que a música era do Caetano, mas os sítios da rede mundial insistiram que era do Chico. Não importa, é uma das músicas mais bonitas que já ouvi. Pelo menos hoje, no presente.


Se lembra da fogueira
se lembra dos balões
se lembra dos luares, dos sertões

A roupa no varal, feriado nacional
e as estrelas salpicadas nas canções

Se lembra quando toda modinha falava de amor
Pois nunca mais cantei, maninha,
depois que ele chegou

Se lembra da jaqueira
a fruta no capim
o sonho que você contou pra mim

Os passos no porão
lembra da assombração
e das almas com perfume de jasmim

Se lembra do jardim, maninha,
coberto de flor

Pois hoje só dá erva daninha
no chão que ele pisou

Se lembra do futuro que a gente combinou
Eu era tão criança e ainda sou
Querendo acreditar
que o dia vai raiar
Só porque uma cantiga anunciou

Mas não me deixe assim tão sozinho a me torturar
que um dia ele vai embora, maninha pra nunca mais voltar

Maninha/ Chico Buarque (?)

8 e 80

Ontem e amanhã, por vezes, são mais presentes que hoje. Ou seja, passado e futuro, muitas vezes, são mais presentes que o próprio presente. É difícil a missão de viver o momento sem pensar nos que foram e nos que virão, mas é necessário. Necessário para que o presente não seja influenciado pelo futuro. Futuro esse, que provavelmente não existirá. Necessário para que o futuro não seja planejado e que simplesmente venha, inesperadamente, sorrateiramente como a música da sua vida que toca na noite de motel com a mulher da sua vida no presente.

Não dá pra trasformar o futuro em presente, que me perdoem os ciganos. A vida é tão inesperada, que nem o pastel, planejado para esta noite, nós conseguimos comer. Mas se não vier pastel, vem pizza.

Mas e a importância de planejar o pastel? E o prazer sentido nos minutos que o precederam?

Sim, sim, é importante. Portanto, tudo que falei até agora, eu nego. Planejar é preciso. É necessário que o futuro, que não existe, influencie o presente. Para que os momentos que precedem a morte tenham gosto de pastel de carne seca com catupiry.

quinta-feira, dezembro 9

Vida real

Considerando os números reais, há uma infinidade deles entre o 8 e o 80.

segunda-feira, novembro 29

Um pitaco da China

"Ame-me quando menos merecer, pois é quando mais preciso".

domingo, novembro 14

Eu sou um fato

Analisar um fato é definitivamente mais interessante do que julgá-lo!

sábado, novembro 13

The question

O que seria do povo brasileiro se não fosse a cachaça?

quarta-feira, novembro 10

Paraconsistência

Diga lá meu coração o que tu sentes quando a vida dá um nó e as coisas não fazem sentido quando tratadas em conjunto. Diga lá meu coração que ela está dentro em meu peito e bem guardada. Diga, sinta, ria, chore, deixe as coisas acontecerem no seu tempo, o choro, o riso, os sentimentos e a fala. Porque meu irmão me lembrou que a insistência das cabeçadas nos muros da cidade pode enlouquecer. Achar que é o dono do tempo o tempo todo inverte o sentido das coisas. Quem sabe faz a hora, mas também espera acontecer. Entendeu? Nem eu, mas também já cansei das explicações. A solução é admitir que a contradição existe, uma lógica contraditória, talvez. A solução é ver "Antes do pôr do sol" na terça feira à noite com sua menina e ver um sorriso no seu rosto. É preciso mais que nunca prosseguir, sentir, dizer, rir, chorar....


Diga Lá, Coração e espere por mim, morena
Gonzaguinha

São coisas dessa vida tão cigana,

caminhos como as linhas dessa mão.
Vontade de chegar e olha eu chegando
e vem esta cigarra no meu peito
já querendo ir cantar noutro lugar.

Diga lá, meu coração, da alegria de rever essa menina
e abraçá-la e beijá-la.

Diga lá, meu coração, conte as histórias das pessoas
nas estradas dessa vida.
Chore essa saudade estrangulada,
fale sem você não há mais nada,
olhe bem nos olhos da morena
e veja lá no fundo a luz daquela primavera.

Durma qual criança no seu colo,
sinta o cheiro forte do teu solo,
passe a mão nos seus cabelos negros,
diga um verso bem bonito
e de novo, vá embora.

Diga lá, meu coração, que ela está dentro em meu peito e
bem guardada
e que é preciso, mais que, nunca prosseguir.

Espere por mim, morena
Espere que eu chego já
o amor por você, morena
faz a saudade me apressar

sexta-feira, outubro 29

Ah se deus existisse!

Trecho de entrevista à revista Caros Amigos (novembro de 2000)

"Se eu ganhasse a Presidência para fazer o mesmo que o Fernando Henrique Cardoso está fazendo, preferiria que Deus me tirasse a vida antes. Para não passar vergonha.Porque, sabe o que acontece?Tem muita gente que tem o direito de mentir, o direito de enganar. Eu não tenho. Há uma coisa que tenho como sagrada: é não perder o direito de olhar nos olhos de meus companheiros e de dormir com aconsciência tranqüila de que a gente é capaz de cumprir cada palavra que a gente assume.E, quando não as cumprir, ter coragem de discutir por que não cumpriu"(Luiz Inácio Lula da Silva)

quarta-feira, outubro 20

My way

De dia, disfarce através da razão. As luzes, os carros, o trânsito, a correria o assustam. A luz nem sempre ajuda a visão, por vezes ofusca.

De madrugada não dá pra mentir. A escuridão é de uma clareza inigualável, o silêncio revela um grito ensurdecedor.

Numa dessas madrugadas claras como neve, ele só precisava de uma música triste surpreendente. Uma daquelas músicas que o surpreende em um quarto de motel. Não valia uma música triste esperada, tinha que ser uma música triste inesperada, que fizesse doer os músculos e que fizesse jus àquela noite melancólica, fria e clara como neve.

A alegria das músicas da rádio o irritava profundamente. Quem as 4 da manhã buscaria alegria na rádio? Não tinha jeito, não havia música que expressasse o que ele sentia, não naquela noite melancólica, fria e clara como neve. Abriu mão do inesperado, tirou o cd do Sinatra da gaveta e tocou "My Way". Boa escolha, já que percebera que teria que seguir a vida do seu jeito e se necessário fazer a sua própria música triste e inesperada. Dormiu bem.

quarta-feira, outubro 13

Sobre as gaivotas

Às vezes me pergunto se nos levamos a sério demais. Outras vezes me pergunto se não nos levamos nada a sério.

Uma pequena observação sobre essa estranhíssima mania de ficar me perguntando sobre as coisas me fez tirar uma conclusão: Eu, pelo menos, me levo a sério demais, demais no mau sentido, no mau sentido pra mim porque isso tortura. A maquininha não pára, sabe? E nem a mais moderna das máquinas funciona ininterruptamente (afirmação sem nenhuma base de uma pessoa que não se leva tão a sério assim). Essa maquininha aqui precisava de uma pausa pra manuntenção porque esse eterno trabalhar causa sérios danos, alguns curtos circuitos, uns problemas sem explicação como no Windows 98, que aliás é um grande ensinamento de que nem tudo na vida tem explicação. Alguém me disse que alguem disse que ouviu alguém dizer que a gaivota só voa porque não se leva tão a sério. Eu concordo, eu concordo. A confusão do texto é proposital ou inevitável. Proposital para refletir a confusão da maquininha, inevitável pois a mesma não sabe lidar de outra forma com o mundo que a fez complicada assim. Aliás, esse é o mesmo mundo das gaivotas que não se levam tão a sério nem são tão complicadas. Juro que vou tentar tirar algum ensinamento do Windows 98 e não tentar explicar tudo.

sexta-feira, outubro 8

É a maldita possessividade

Valeu pelo texto, Rita, gostei muito. O engraçado é que já tentei escrever sobre isso, mas nunca fui tão feliz quanto o escritor português.

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Miguel Sousa Tavares (Escritor português, a propósito da perda de sua Mãe, a escritora e poetisa Sophia de Mello-Breyner)

segunda-feira, outubro 4

Um estudo de caso exploratório sobre minhas reminiscências ou uma reflexão sobre os "quereres"

Tenho tanta coisa pra escrever que acabo ficando sem nada, pois falta uma unidade de análise, um objeto bem definido. Aliás, essa é também minha maior dificuldade pra escrever a monografia. Será uma limitação minha? Uma dificuldade de obter foco na vida? De querer abraçar o mundo com as pernas, antecipar um futuro ou retardar um presente? Taí, dificuldade de viver o presente talvez seja uma boa unidade de análise.

Será que é verdade que quem tá fora quer entrar e quem tá dentro quer sair (João das Coves apud dito popular, pág desconhecida)? Essa é a nossa (um estudo científico exige que não usemos a primeira pessoa do singular, por mais que a primeira e única pessoa da pesquisa seja eu mesmo com toda a minha singularidade) hipótese. Sem a necessidade de explanar uma teoria, faremos um estudo de caso único, mesmo porque entender a si mesmo já é uma missão muito árdua, impossibilitando a viabilidade de qualquer tipo de pesquisa com uma amostra mais significativa. Mas também podemos considerar que uma única pessoa traz em si muitas outras que passaram e continuam passando, tornando-a uma amostra relativamente significativa no universo. Gente é gente. Nesse estudo de caso abordaremos a pesquisa-ação-mais-que-integral-e-mais-que-sistêmica, pois o ator envolvido no caso está mais do que comprometido com a participação na pesquisa. Pesquisador e pesquisado confundem-se de uma maneira nunca vista anteriormente.

Primeiramente, trabalhamos com um levantamento histórico, usando como ferramenta única o poderoso Guliver. Dados interessantíssimos foram extraídos, como a vontade de ter aparelho quando muitos dos seus amigos pareciam bonitos com a parafernália nos dentes. Além desse, outros mais esquisitos como vontade-de-ter-óculos e, pasmem, vontade-de-ficar-com-o-rosto-descacado também foram identificados. Algumas outras informações mais sigilosas foram obtidas, mas o respeito e o comprometimento mútuo obtido na pesquisa nos impede de veiculá-las, tendo o entrevistado permitido que disséssemos uma delas: também tinha vontade de ter espinhas, ainda que numa versão light, pois essas representavam a maturidade.

Todos esses dados podem ser confrontados com outros casos, que apesar de não terem sido estudados, fazem parte do conhecimento acumulado do pesquisador e do chamado "senso comum", que representa também o conhecimento acumulado desses que me lêem. Essas experiências mostram que quem usa aparelho e óculos não estão satisfeitos com suas respectivas condições. Podemos dizer a mesma coisa dos quem tem o rosto descascado, que além de reclamarem da aparência, sofrem com a dor causada pelos raios ultravioletas. Os detentores de acne encontram-se na mesma situação destes últimos.

Como já foi falado, não há a pretensão de generalização de uma teoria, mas o diagnóstico desses dados levantados mostra claramente a insatisfação de todos com relação às variáveis abordadas (ter espinha, descascar, usar óculos e aparelho). Outros casos, também não tão bem estudados, podem ser citados apenas com o intuito de gerar uma reflexão ao leitor, como a eterna insatisfação das morenas que querem ser loiras e vice-versa. Isso para não falar das que têm cabelo liso que querem ter o cabelo encaracolado e vice-versa mais uma vez.

Essa primeira parte da pesquisa consistiu apenas no uso da memória para o confrontamento de dados, que por sua vez tem o intuito de gerar uma reflexão sobre os "quereres", deixando o leitor livre para eventuais conclusões. A próxima etapa da pesquisa ainda depende de verbas de tempo que podem ou não ser liberadas pelos organismos responsáveis: o ócio e a insônia.

quinta-feira, setembro 16

Tempo atemporal

Abre-se a porta, vejo menina de saia e banho tomado. Poucas palavras trocadas, na verdade nenhuma, por alguns míseros minutos. Alguns extraordinários míseros minutos seguidos por frases curtas, curta saia, cabelo curto, beijos longos, sentimento longo, abraço longo, sensação eterna, certeza eterna, mesmo que curta, média ou longa cujo o tempo que é atemporal determinará. Determinará a eterna incerteza do que hoje é certo.

sábado, setembro 4

Nem sempre dá

Nem sempre estamos imunes a tudo que acontece com os outros, nem sempre conseguimos usar um tapa-burro e fingir que não vemos a menina no sinal vendendo bala. É uma questão de sobrevivência, mas nem sempre dá. Por vezes acordo bem, penso em ver um filme de comédia, me distrair um pouco, mas nem sempre dá. Em alguns instantes quero acreditar(ou me iludir) que as coisas estão progredindo, que está ocorrendo alguma mudança, mas não consigo ser tão ingênuo por muito tempo. Não bastasse a avalanche de realidade das ruas, elas são entregues na sua casa às 5 da manhã. E nós ainda pagamos por isso.

Hoje eu não queria ter ligado a televisão a não ser pra ver um filme de comédia. Hoje eu não queria ter visto o jornal, a não ser pra ler que meu Flamengo tá melhorando. Hoje eu queria ser fútil, alienado ou o que quer que seja. Hoje eu não queria ver aquela criança chorando na capa do jornal, não mesmo. 200 mortos e 700 feridos. Os 700 me incomodam mais. Que tipo de ferida? Certamente as mais graves não são visíveis, certamente não são cicatrizáveis (as cicatrizes são boas, as feridas que não são) e muito provavelmente serão responsáveis por novas feridas não cicatrizáveis, que por sua vez darão continuidade ao círculo vicioso. Em progressão geométrica. Um círculo que aumenta de diâmetro a cada dia.

Definitivamente não me interessa saber quem são os responsáveis. Se são os babacas de bunda pro alto ou se são os babacas nacionalistas. O pior é saber que isso acontece, saber que o círculo tá me englobando, que a ferida vem até aqui e que isso será usado como desculpa pra que outros babacas façam a mesma coisa. Às vezes espero anciosamente o tão anunciado fim do petróleo pra ver se melhora algumas coisa, mas no fundo sei que não é essa a questão.

Hoje eu só queria ver um filme pipoca, mas nem sempre dá.

quarta-feira, setembro 1

Propaganda política

Quem já estudou alguma coisa de marketing sabe que uma das funções da propaganda é extrair qualidades inovadoras dos produtos, por mais que estes não as tenham. Por mais que seja um produto de merda, que não tenha utilidade nenhuma e não tenha nada que preste, a propaganda está lá pra exaltar/inventar suas qualidades.

Assim também é a propaganda política....

quinta-feira, agosto 12

Devaneios Noturnos

“Eu que não digo, mas ardo de desejo
Te olho, te guardo, te sigo, te vejo dormir”(Cecília)


As palavras não são meu forte, talvez por isso não diga, ou talvez porque na sua presença palavras são brutas, mas te vejo dormir.

“Mas levo esse amor com o zelo de quem leva o andor
eu velo pelo meu amor que sonha
que, enfim, nosso amor, também pode ter seu valor
também é um tipo de flor
que nem outro tipo de flor
dum tipo que tem que não deve nada a ninguém
que dá mais que Maria-Sem-Vergonha”(Amor Barato)

É o amor do realismo, libertado das amarras insuportáveis e chatas do amor romântico. Não é barato, se me permite discordar.

“Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã ”(Samba e Amor)

Não é de lã, pois assim como você, tenho alergia, mas também sinto muito sono de manhã. Não tanto quanto você. Acordo antes pra te ver dormir.

“Eu que não digo, mas ardo de desejo
Te olho, te guardo, te sigo, te vejo dormir”



domingo, agosto 8

Olavo é o Carvalho!

Já que "O GROBO" não publica a minha carta, o blogspot me ajuda:

Bastante inoportuna a tentativa do governo de criar o Conselho Federal de Jornalismo, principalmente devido às atuais denúncias contra o presidente do BC, mas aproveito o espaço para sugerir a criação do Conselho Federal de Filosofia, para que pessoas como Olavo de Carvalho não se intitulem filósofos e muito menos ganhem espaço em um jornal nacional. Um conselho que reafirme o papel da filosofia, que segundo o Aurélio constitui-se em um estudo que visa a ampliar a compreensão da realidade no sentido de aprendê-la em sua inteireza. E a visão restrita e sectária dessa pessoa impede que os fatos sejam analisados em sua inteireza. E aproveito para questionar quais são as fontes esquerdistas que dizem que a ditadura no Brasil matou apenas trezentas pessoas. Caso estas realmente existam, eu me tornarei a favor do Conselho Federal de Jornalismo, porque isso só pode ser mais uma brincadeirinha de mal gosto do suposto filósofo.


segunda-feira, agosto 2

Mudanças

Mudança de endereço, livre da globo.com. O antigo site ainda está no ar, mas não sei até quando. Por isso vou postar aqui alguns textos antigos para tê-los registrados, não existe uma ordem. O blogspot também não considerou os parágrafos e não vou mudar um por um.

Lógica ilógica revisada (27/09/2003)

Há um tempo, quando buscava algumas respostas para a indiferença, me dei conta de que esta, muitas vezes, é camuflada por artifícios de pensamento que geram um conforto para as pessoas. Sei que isso ainda está um pouco confuso. Vou explicar melhor. Não acredito em vilões de malhação e novela mexicana. Pessoas que fazem mal com total consciência e têm prazer por isso. Pelo menos acho que não conheço ninguém assim. Como tenho dificuldades de conviver com a culpa, sempre me perguntei como dormem as pessoas que causaram danos a outras. Como o Bush bota a cabeça no travesseiro? Dificilmente vão me convencer que esses têm uma risada maligna, como a do Esqueleto. Acho que para justificarem suas atitudes e se isentarem de culpa, algumas pessoas utilizam-se de uma lógica um tanto quanto obscura. Traduzida para a matemática seria algo como: 1+1=3, logo 3=4. Para agirem conforme suas conveniências, se esquecem de princípios, mas precisam de alguma forma justificar esse esquecimento. Para tanto, utilizam-se dessa maldita lógica para conseguir dormir em paz. Perceberam que o texto está em terceira pessoa, né? Claro que me coloco fora disso. A pessoa que se utiliza da lógica ilógica nunca vai admitir, pois não funcionaria. Comigo não poderia ser diferente. Às vezes, penso que seria importante que todos compartilhássemos de uma mesma lógica. Na matemática, as convenções adotadas fazem com que os cálculos dêem certos. Mas a vida é muito mais complexa que os números complexos.

Lógica lógica, porém, ilógica (12/07/2004)

O desemprego que deveria ser uma preocupação em toda a parte do mundo tornou-se, há muito tempo, uma das peças mais importantes pro desenvolvimento do capitalismo. Há algo mais sensato do que reduzir a jornada de trabalho pra combater o desemprego? Alguns países europeus conseguiram. Como a França, que reduziu a jornada de trabalho para 35 horas semanais. Alguns acreditam que essa medida gerou 350 mil empregos no país enquanto outros acham que o crescimento econômico foi o maior responsável. Independente de quem esteja certo, à primeira vista é bastante lógico que a redução gera emprego. Porém numa economia onde tudo, sem exceção, está subordinado ao capital, as coisas não são bem assim. Empresas com sede na Alemanha, que também reduziu sua jornada de trabalho, ameaçam ir para outros lugares, como a Hungria, que tem uma jornada maior e a mão de obra é mais barata. Óbvio que é mais barato. E afirmo, sem nem saber qual é a capital do país, que o número de desempregados na Hungria é maior, o que logicamente torna a mão de obra mais barata. É essa a lógica do capital, o desemprego é uma das peças chaves do capitalismo. E as conquistas dos trabalhadores obtidas na França vão por água abaixo, tanto que seu presidente já afirmou que a França precisa trabalhar mais para sair do buraco. Essa é só mais uma prova de que nenhuma mudança será conseguida apenas localmente. Se a Hungria adotasse a mesma medida, as empresas talvez não tivessem pra onde ir. O capitalismo funciona como um governo no poder que se utiliza da máquina do estado pra se perpetuar. Se não me engano, foi num texto do Marx que vi uma proposta do estabelecimento da jornada de trabalho baseada no número de trabalhadores existentes, de tal forma que não houvesse desempregados. Só que essa é uma outra lógica. As mudanças locais se transformam em nada. Che já sabia disso e morreu lutando pra que hoje não faltasse sabão em Cuba.

Sem piedade (28/09/2003)

O Pensador e o Profeta Banana definiram muito bem. É, realmente, a pior raça que existe. O pior é que não se contentam em ficar no seu habitat natural e se proliferam a cada dia, como insetos em volta da lâmpada. Mas acho que cabe a quem tem cérebro evitar certas coisas e não deixar que eles consigam o que querem. Não ligar pro esbarrão, pra encarada, mas algumas coisas têm limites. É como discutir e dar atenção para uma criança mimada que a mãe não quer comprar o brinquedinho. A mãe pode dar os melhores argumentos, mas ela vai querer o brinquedo mesmo assim. Vamos pedir piedade? Eu não tenho. Acho que merecem a forca, pois vão ser uns merdas pro resto da vida. E mesmo que melhorem um dia, acho que já merecem morrer pelo que fazem hoje.

Cinema Paradiso (01/10/2003)

Devia ter uns 10 anos de idade quando vi pela primeira vez Cinema Paradiso. Eu adorava o filme. Tinha gravado e revia constantemente. Sem saber muito o porquê, eu sempre chorava ao vê-lo. Preferia ver sozinho, pois tinha vergonha. Há alguns meses, no programa do Jô, passou um trecho do filme e tive a mesma sensação de quando tinha 10 anos de idade e finalmente descobri o motivo. A música do filme é uma das coisas mais bonitas que eu já ouvi. Consegui achá-la em mp3 e ainda choro quando ouço, mas só quando estou sozinho.

Ouro de Tolo (08/10/2003)

Cada dia mais indeciso quanto ao meu futuro profissional. Cada dia mais certo do que quero fazer. A faculdade não me diz quase nada e não sei de quem é a culpa. Mais uma entrevista de estágio. Odeio essa competição e o ambiente criado dentro de uma dinâmica de grupo. Uma tentativa completamente fracassada, na minha opinião, de simular um ambiente de trabalho. Às vezes acho que me saboto. Sempre a mesma ladainha e as mesmas brincadeirinhas que não medem nada de porra nenhuma. E depois aquele velho papo: Se você não for chamado, não quer dizer que você não é bom. Simplesmente não se adequa ao perfil da empresa. Tenho orgulho de não me adequar ao perfil de certas empresas. Imaginem se eu me adequasse ao perfil da Nike. Ficaria preocupado. Minha mãe diria que tenho que ter mais jogo de cintura e talvez esteja certa, mas prometi ao Raul que eu que não me sento no trono de uma multinacional com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar.

90 anos (11/10/2003)

No próximo dia 19, Vinícius de Moraes completaria 90 anos. Grata surpresa pra quem completa 21 no mesmo dia. Sim, Vinícius, ser alegre é melhor do que ser triste, mas não sai da minha cabeça que a tristeza não tem fim. Mas como você bem disse, a vida só se dá pra quem se deu. Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu. Não vale a pena pensar muito nisso. Mesmo que de repente, não mais que de repente se faça de triste de quem se fez amante e de sozinho de quem se fez contente, acho que o contrário também é verdadeiro. Sem pedir licença nem perdão, ela vem louca pra nos enlouquecer, mesmo que fatalmente nos faça sofrer, pois são demais os perigos desta vida pra quem tem paixão. E por falar em paixão, em razão de viver, você bem que podia me aparecer. Nesses mesmos lugares, nas noites, nos bares. Mas sem canto de ossanha não apareça não, pois muito vai se arrepender. De quem é a culpa? Sei lá, a vida tem sempre razão!

Casos oblíquos (01/12/2003)


Vocês não acham muito estranho que o "me" seja um pronome pessoal do caso oblíquo? Eu sempre achei isso muito louco! O "me" não tem nada de oblíquo. E que caso é esse? Até o "me" tem caso? Será que ninguém se safa mesmo? O mundo é que é oblíquo demais! E com essa inclinação, maior que 360 graus, ninguém fica de pé! E as conjunções? Conjunção coordenativa blá blá explicativa. Tudo isso pra classificar o "porque"? Sem falar nas orações sindéticas e assindéticas. Tudo oblíquo demais! E as funções sintáticas? Acho esse nome engraçado demais! Sempre associava isso a tábuas e só agora descobri que era por causa do sinteco. É que naquela época passaram sinteco aqui em casa e foi mais chato do que decorar as funções sintáticas. Ah, eu adoro falar essa palavra!Função sintática! Sempre me perguntei onde se escondia o sujeito oculto. Talvez atrás dos adjuntos adverbiais, que antes eram só advérbios, mas com a queda da bolsa de Nova York, viraram adjuntos. Adjuntos adverbiais de modo. Agora, se pudesse extinguir uma classe gramatical, tiraria as conjunções coordenativas blá blá adversativas. Imaginem um mundo sem "mas" e "poréns". Ah, eu odeio as conjunções coordenativas blá blá adversativas. Elas que tinham que ser do caso oblíquo e não o "me". Eu gosto do "me", mas gosto mais do "te". O que não é sempre bom. Queria gostar mais do "me", que pensando bem é oblíquo demais!

Ah, Natyta, (12/12/2003)

Eu não conheço muitas palavras nem sei juntá-las muito bem, mas sei sentí-las. Todas, inclusive as que não conheço e as que não existem. E hoje, todas são pra você. Queria poder descobrí-las pra te oferecer, mas ofereço mesmo desconhecendo. Nem todos os sentimentos estão registrados. Dessa vez eu não achei nos textos nem nas músicas. Talvez porque seja um sentimento único. Nós gostamos de achar que nossos sentimentos são únicos, não é? Mas eu acredito que são. Isso não os faz melhores nem piores, apenas, únicos. Dessa vez não faltam palavras, pois me apropriei de todas por alguns segundos pra poder te dar. São todas suas. Todas as palavras que senti, embora desconheça. Palavras que ainda não têm classe gramatical e muito menos função sintática, mas que exercem papéis importantíssimos nas orações, que também não podem ser escritas, mas podem ser sentidas. E espero que você sinta. Um grande beijo

Vista maravilhosa, vista russa (19/03/2004)

O tempo tem sido escasso, assim como a inspiração. Já perdi as contas dos textos que comecei a escrever e parei por não gostar. Mas não escrever por esse motivo vai contra a idéia inicial do blog. Afinal, eu não tinha perdido o medo da chuva? Não, assim como já falei uma, duas ou talvez três vezes as coisas não mudam como num filme, da noite pro dia. Esses momentos em que você acha que tudo vai mudar pra sempre são importantíssimos, talvez seja o início da mudança, mas não são definitivos. E que chuva foi essa que voltou a me amedrontar? Algumas conversas de bar, algumas constatações, o sentimento de "que merda" ao ler os textos antigos, o medo de parecer arrogante, pretensioso, o medo de parecer e de aparecer demais. Parecer demais aparecido, talvez. As constatações provenientes das conversas de bar me mostraram um outro ponto de vista muito válido. Com todo o cuidado do mundo, me disseram que o blog acaba trazendo uma necessidade de exposição e reconhecimento muito grande. Concordei em parte, mas muitas vezes é mais jogo deixar alguns sentimentos fluírem, por mais que não sejam politicamente corretos. È ruim e cansativo demais lutar contra os desejos que vão contra a moral. Aliás, somos todos moralistas. Tenho tentado liberar os que não fazem mal a ninguém, ou que pelo menos julgo não fazer. A simples veiculação de textos numa página da Internet pode realmente demonstrar um egocentrismo forte, mas e daí? De uma certa forma, todos somos egocêntricos e todos gostamos de ser notados e acaba sendo cansativo demais lutar contra esses instintos, tentar ser perfeito. A tempestade me fez deixar de escrever sobre fatos importantíssimos, como o final de semana em Paraty com a minha menina, assim como seu aniversário. Definitivamente não faltou inspiração, talvez tenha sobrado obsessividade, mas não faltou inspiração. As ilhas de Paraty, a piscina natural de Trindade, o teatro de bonecos, a rede na varanda da pousada, tudo isso com vista para a minha menina. Não, não faltou nada,sobrou, aliás. Tudo.

Retrospectiva 2003 (25/12/2003)

De um ano puto a um puta ano. De perdas do que não existia a encontros do que sempre existiu. Encontros que sei que vou lembrar em 2063. Como eu poderia esquecer?! 2003 está pra minha vida assim como 1969 está pro Rock. Construí um "In Rock" e um "Tommy" dentro de mim. Edições comemorativas. E em 2063, sentado na Pedra do Arpoador ou no Parque Dois Irmãos, vou lembrar de tudo. De todos os detalhes, de todos os sorrisos, de todas as angústias, esperanças e medos. E com certeza vou rir de tudo. No futuro a gente sempre ri de tudo, mesmo que nesse futuro exista um presente pelo qual a gente chore. Foi um ano, assim como todos os outros, bastante musical. Foram muitas as músicas de 2003. Tangerine, Pinball Wizard, Starry Starry Night, Time Stand Still, Samba do Grande Amor, Escravo da Alegria, enfim, se continuar, não acabo hoje. A vida, definitivamente, é a arte do encontro, pois são eles que ficam. Não vou lembrar dos desencontros em 2063, mas dos encontros, sim. E mesmo que lembre, não terão importância. Não sei se foram muitos os encontros, mas sei que foram importantes. Importantíssimos. Nem um Alzeinheimer me faria esquecer, pois vão sempre fazer parte de mim.

Começaria tudo outra vez, se preciso fosse meu amor...

Sei lá (27/03/04)

Sabe-se lá o quanto é que nunca foi
O quanto foi que não é mais
O quanto foi que nem era
O quanto é que ainda vai ser
O quanto vai ser que ainda não é
E o quanto é que talvez nem seja mais

Sabe-se lá o valor do inválido
A validade do estragado
O verme do que ainda é novo
O verme do que já apodreceu
E a parte que presta da carne podre

Sabe-se lá o que ainda resta do vazio
O que sobrou do esgotado
O que esgotou da sobra
E o que falta no que está cheio

Sabe-se lá a regra da exceção
Qual é a exceção à regra
E qual é a regra

A regra existe?
Sabe-se lá!

Tô fora (03/05/2004)

Há quem ache que o dinheiro é tudo. Há quem ache que tudo é dinheiro. Ainda há os que acham que vale a pena fazer tudo por dinheiro, já que ele é tudo. Por mais incrível que pareça, ainda há os que acham que isso é sinal de esperteza. Mas afirmo que a insensibilidade nunca vai ser sinal de inteligência. Lançar mão da sensibilidade por dinheiro é sinal de mediocridade. Muitos dizem que dessa forma eu não vou chegar lá em cima. Provavelmente, estão certos, pois meu maior interesse é chegar lá embaixo. Posso não ter a capacidade de conseguir mudar muita coisa, mas quero pelo menos incomodar, e para isso acho que não vai faltar disposição. Faço dessas minhas palavras: Tive, portanto, oportunidade de ver os operários e de estudá-los da manhã à noite. Nunca e em nenhum lugar, em nenhuma outra classe social, encontrei tanta abnegação, tanta integridade, verdadeiramente comovente, tanta delicadeza de maneiras e jovialidade unidas ao heroísmo como entre estas pessoas simples sem cultura, que sempre valeram e sempre valerão mil vezes mais que seus chefes. (Trecho de Confession (carta ao czar), Bakunin)


sábado, julho 24

Baby, if I could change the world

Encontro ao passado regado de histórias, sonhos, ideologias e vaidades. Nada muito diferente, mas especial para mim. O Clapton me recebe com Layla e ouve o que tenho pra dizer. Ouve até o que não sei dizer. Ouve as antigas histórias de quem não sabe se explicar com as palavras e se irrita quando não consegue racionalizar alguma coisa. Ah, filho de médico e professora de matemática, a faculdade de engenharia agravou ainda mais a sua busca pelos objetos, mas há muito mais subjetividade no mundo do que lhe parece. Deixe seus sentimentos serem o que são e pronto, sem nenhuma finalidade ou sem algum porquê. Sinta-os simplesmente. E se algum deles não agradar a sua velha moral, que se foda a sua moral, pois ela vem de um lugar muito mais obscuro e desconhecido do que seus sentimentos. Seja livre pra sentir, pelo menos, e se possível, livre pra pensar.