quinta-feira, agosto 12

Devaneios Noturnos

“Eu que não digo, mas ardo de desejo
Te olho, te guardo, te sigo, te vejo dormir”(Cecília)


As palavras não são meu forte, talvez por isso não diga, ou talvez porque na sua presença palavras são brutas, mas te vejo dormir.

“Mas levo esse amor com o zelo de quem leva o andor
eu velo pelo meu amor que sonha
que, enfim, nosso amor, também pode ter seu valor
também é um tipo de flor
que nem outro tipo de flor
dum tipo que tem que não deve nada a ninguém
que dá mais que Maria-Sem-Vergonha”(Amor Barato)

É o amor do realismo, libertado das amarras insuportáveis e chatas do amor romântico. Não é barato, se me permite discordar.

“Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã ”(Samba e Amor)

Não é de lã, pois assim como você, tenho alergia, mas também sinto muito sono de manhã. Não tanto quanto você. Acordo antes pra te ver dormir.

“Eu que não digo, mas ardo de desejo
Te olho, te guardo, te sigo, te vejo dormir”



domingo, agosto 8

Olavo é o Carvalho!

Já que "O GROBO" não publica a minha carta, o blogspot me ajuda:

Bastante inoportuna a tentativa do governo de criar o Conselho Federal de Jornalismo, principalmente devido às atuais denúncias contra o presidente do BC, mas aproveito o espaço para sugerir a criação do Conselho Federal de Filosofia, para que pessoas como Olavo de Carvalho não se intitulem filósofos e muito menos ganhem espaço em um jornal nacional. Um conselho que reafirme o papel da filosofia, que segundo o Aurélio constitui-se em um estudo que visa a ampliar a compreensão da realidade no sentido de aprendê-la em sua inteireza. E a visão restrita e sectária dessa pessoa impede que os fatos sejam analisados em sua inteireza. E aproveito para questionar quais são as fontes esquerdistas que dizem que a ditadura no Brasil matou apenas trezentas pessoas. Caso estas realmente existam, eu me tornarei a favor do Conselho Federal de Jornalismo, porque isso só pode ser mais uma brincadeirinha de mal gosto do suposto filósofo.


segunda-feira, agosto 2

Mudanças

Mudança de endereço, livre da globo.com. O antigo site ainda está no ar, mas não sei até quando. Por isso vou postar aqui alguns textos antigos para tê-los registrados, não existe uma ordem. O blogspot também não considerou os parágrafos e não vou mudar um por um.

Lógica ilógica revisada (27/09/2003)

Há um tempo, quando buscava algumas respostas para a indiferença, me dei conta de que esta, muitas vezes, é camuflada por artifícios de pensamento que geram um conforto para as pessoas. Sei que isso ainda está um pouco confuso. Vou explicar melhor. Não acredito em vilões de malhação e novela mexicana. Pessoas que fazem mal com total consciência e têm prazer por isso. Pelo menos acho que não conheço ninguém assim. Como tenho dificuldades de conviver com a culpa, sempre me perguntei como dormem as pessoas que causaram danos a outras. Como o Bush bota a cabeça no travesseiro? Dificilmente vão me convencer que esses têm uma risada maligna, como a do Esqueleto. Acho que para justificarem suas atitudes e se isentarem de culpa, algumas pessoas utilizam-se de uma lógica um tanto quanto obscura. Traduzida para a matemática seria algo como: 1+1=3, logo 3=4. Para agirem conforme suas conveniências, se esquecem de princípios, mas precisam de alguma forma justificar esse esquecimento. Para tanto, utilizam-se dessa maldita lógica para conseguir dormir em paz. Perceberam que o texto está em terceira pessoa, né? Claro que me coloco fora disso. A pessoa que se utiliza da lógica ilógica nunca vai admitir, pois não funcionaria. Comigo não poderia ser diferente. Às vezes, penso que seria importante que todos compartilhássemos de uma mesma lógica. Na matemática, as convenções adotadas fazem com que os cálculos dêem certos. Mas a vida é muito mais complexa que os números complexos.

Lógica lógica, porém, ilógica (12/07/2004)

O desemprego que deveria ser uma preocupação em toda a parte do mundo tornou-se, há muito tempo, uma das peças mais importantes pro desenvolvimento do capitalismo. Há algo mais sensato do que reduzir a jornada de trabalho pra combater o desemprego? Alguns países europeus conseguiram. Como a França, que reduziu a jornada de trabalho para 35 horas semanais. Alguns acreditam que essa medida gerou 350 mil empregos no país enquanto outros acham que o crescimento econômico foi o maior responsável. Independente de quem esteja certo, à primeira vista é bastante lógico que a redução gera emprego. Porém numa economia onde tudo, sem exceção, está subordinado ao capital, as coisas não são bem assim. Empresas com sede na Alemanha, que também reduziu sua jornada de trabalho, ameaçam ir para outros lugares, como a Hungria, que tem uma jornada maior e a mão de obra é mais barata. Óbvio que é mais barato. E afirmo, sem nem saber qual é a capital do país, que o número de desempregados na Hungria é maior, o que logicamente torna a mão de obra mais barata. É essa a lógica do capital, o desemprego é uma das peças chaves do capitalismo. E as conquistas dos trabalhadores obtidas na França vão por água abaixo, tanto que seu presidente já afirmou que a França precisa trabalhar mais para sair do buraco. Essa é só mais uma prova de que nenhuma mudança será conseguida apenas localmente. Se a Hungria adotasse a mesma medida, as empresas talvez não tivessem pra onde ir. O capitalismo funciona como um governo no poder que se utiliza da máquina do estado pra se perpetuar. Se não me engano, foi num texto do Marx que vi uma proposta do estabelecimento da jornada de trabalho baseada no número de trabalhadores existentes, de tal forma que não houvesse desempregados. Só que essa é uma outra lógica. As mudanças locais se transformam em nada. Che já sabia disso e morreu lutando pra que hoje não faltasse sabão em Cuba.

Sem piedade (28/09/2003)

O Pensador e o Profeta Banana definiram muito bem. É, realmente, a pior raça que existe. O pior é que não se contentam em ficar no seu habitat natural e se proliferam a cada dia, como insetos em volta da lâmpada. Mas acho que cabe a quem tem cérebro evitar certas coisas e não deixar que eles consigam o que querem. Não ligar pro esbarrão, pra encarada, mas algumas coisas têm limites. É como discutir e dar atenção para uma criança mimada que a mãe não quer comprar o brinquedinho. A mãe pode dar os melhores argumentos, mas ela vai querer o brinquedo mesmo assim. Vamos pedir piedade? Eu não tenho. Acho que merecem a forca, pois vão ser uns merdas pro resto da vida. E mesmo que melhorem um dia, acho que já merecem morrer pelo que fazem hoje.

Cinema Paradiso (01/10/2003)

Devia ter uns 10 anos de idade quando vi pela primeira vez Cinema Paradiso. Eu adorava o filme. Tinha gravado e revia constantemente. Sem saber muito o porquê, eu sempre chorava ao vê-lo. Preferia ver sozinho, pois tinha vergonha. Há alguns meses, no programa do Jô, passou um trecho do filme e tive a mesma sensação de quando tinha 10 anos de idade e finalmente descobri o motivo. A música do filme é uma das coisas mais bonitas que eu já ouvi. Consegui achá-la em mp3 e ainda choro quando ouço, mas só quando estou sozinho.

Ouro de Tolo (08/10/2003)

Cada dia mais indeciso quanto ao meu futuro profissional. Cada dia mais certo do que quero fazer. A faculdade não me diz quase nada e não sei de quem é a culpa. Mais uma entrevista de estágio. Odeio essa competição e o ambiente criado dentro de uma dinâmica de grupo. Uma tentativa completamente fracassada, na minha opinião, de simular um ambiente de trabalho. Às vezes acho que me saboto. Sempre a mesma ladainha e as mesmas brincadeirinhas que não medem nada de porra nenhuma. E depois aquele velho papo: Se você não for chamado, não quer dizer que você não é bom. Simplesmente não se adequa ao perfil da empresa. Tenho orgulho de não me adequar ao perfil de certas empresas. Imaginem se eu me adequasse ao perfil da Nike. Ficaria preocupado. Minha mãe diria que tenho que ter mais jogo de cintura e talvez esteja certa, mas prometi ao Raul que eu que não me sento no trono de uma multinacional com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar.

90 anos (11/10/2003)

No próximo dia 19, Vinícius de Moraes completaria 90 anos. Grata surpresa pra quem completa 21 no mesmo dia. Sim, Vinícius, ser alegre é melhor do que ser triste, mas não sai da minha cabeça que a tristeza não tem fim. Mas como você bem disse, a vida só se dá pra quem se deu. Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu. Não vale a pena pensar muito nisso. Mesmo que de repente, não mais que de repente se faça de triste de quem se fez amante e de sozinho de quem se fez contente, acho que o contrário também é verdadeiro. Sem pedir licença nem perdão, ela vem louca pra nos enlouquecer, mesmo que fatalmente nos faça sofrer, pois são demais os perigos desta vida pra quem tem paixão. E por falar em paixão, em razão de viver, você bem que podia me aparecer. Nesses mesmos lugares, nas noites, nos bares. Mas sem canto de ossanha não apareça não, pois muito vai se arrepender. De quem é a culpa? Sei lá, a vida tem sempre razão!

Casos oblíquos (01/12/2003)


Vocês não acham muito estranho que o "me" seja um pronome pessoal do caso oblíquo? Eu sempre achei isso muito louco! O "me" não tem nada de oblíquo. E que caso é esse? Até o "me" tem caso? Será que ninguém se safa mesmo? O mundo é que é oblíquo demais! E com essa inclinação, maior que 360 graus, ninguém fica de pé! E as conjunções? Conjunção coordenativa blá blá explicativa. Tudo isso pra classificar o "porque"? Sem falar nas orações sindéticas e assindéticas. Tudo oblíquo demais! E as funções sintáticas? Acho esse nome engraçado demais! Sempre associava isso a tábuas e só agora descobri que era por causa do sinteco. É que naquela época passaram sinteco aqui em casa e foi mais chato do que decorar as funções sintáticas. Ah, eu adoro falar essa palavra!Função sintática! Sempre me perguntei onde se escondia o sujeito oculto. Talvez atrás dos adjuntos adverbiais, que antes eram só advérbios, mas com a queda da bolsa de Nova York, viraram adjuntos. Adjuntos adverbiais de modo. Agora, se pudesse extinguir uma classe gramatical, tiraria as conjunções coordenativas blá blá adversativas. Imaginem um mundo sem "mas" e "poréns". Ah, eu odeio as conjunções coordenativas blá blá adversativas. Elas que tinham que ser do caso oblíquo e não o "me". Eu gosto do "me", mas gosto mais do "te". O que não é sempre bom. Queria gostar mais do "me", que pensando bem é oblíquo demais!

Ah, Natyta, (12/12/2003)

Eu não conheço muitas palavras nem sei juntá-las muito bem, mas sei sentí-las. Todas, inclusive as que não conheço e as que não existem. E hoje, todas são pra você. Queria poder descobrí-las pra te oferecer, mas ofereço mesmo desconhecendo. Nem todos os sentimentos estão registrados. Dessa vez eu não achei nos textos nem nas músicas. Talvez porque seja um sentimento único. Nós gostamos de achar que nossos sentimentos são únicos, não é? Mas eu acredito que são. Isso não os faz melhores nem piores, apenas, únicos. Dessa vez não faltam palavras, pois me apropriei de todas por alguns segundos pra poder te dar. São todas suas. Todas as palavras que senti, embora desconheça. Palavras que ainda não têm classe gramatical e muito menos função sintática, mas que exercem papéis importantíssimos nas orações, que também não podem ser escritas, mas podem ser sentidas. E espero que você sinta. Um grande beijo

Vista maravilhosa, vista russa (19/03/2004)

O tempo tem sido escasso, assim como a inspiração. Já perdi as contas dos textos que comecei a escrever e parei por não gostar. Mas não escrever por esse motivo vai contra a idéia inicial do blog. Afinal, eu não tinha perdido o medo da chuva? Não, assim como já falei uma, duas ou talvez três vezes as coisas não mudam como num filme, da noite pro dia. Esses momentos em que você acha que tudo vai mudar pra sempre são importantíssimos, talvez seja o início da mudança, mas não são definitivos. E que chuva foi essa que voltou a me amedrontar? Algumas conversas de bar, algumas constatações, o sentimento de "que merda" ao ler os textos antigos, o medo de parecer arrogante, pretensioso, o medo de parecer e de aparecer demais. Parecer demais aparecido, talvez. As constatações provenientes das conversas de bar me mostraram um outro ponto de vista muito válido. Com todo o cuidado do mundo, me disseram que o blog acaba trazendo uma necessidade de exposição e reconhecimento muito grande. Concordei em parte, mas muitas vezes é mais jogo deixar alguns sentimentos fluírem, por mais que não sejam politicamente corretos. È ruim e cansativo demais lutar contra os desejos que vão contra a moral. Aliás, somos todos moralistas. Tenho tentado liberar os que não fazem mal a ninguém, ou que pelo menos julgo não fazer. A simples veiculação de textos numa página da Internet pode realmente demonstrar um egocentrismo forte, mas e daí? De uma certa forma, todos somos egocêntricos e todos gostamos de ser notados e acaba sendo cansativo demais lutar contra esses instintos, tentar ser perfeito. A tempestade me fez deixar de escrever sobre fatos importantíssimos, como o final de semana em Paraty com a minha menina, assim como seu aniversário. Definitivamente não faltou inspiração, talvez tenha sobrado obsessividade, mas não faltou inspiração. As ilhas de Paraty, a piscina natural de Trindade, o teatro de bonecos, a rede na varanda da pousada, tudo isso com vista para a minha menina. Não, não faltou nada,sobrou, aliás. Tudo.

Retrospectiva 2003 (25/12/2003)

De um ano puto a um puta ano. De perdas do que não existia a encontros do que sempre existiu. Encontros que sei que vou lembrar em 2063. Como eu poderia esquecer?! 2003 está pra minha vida assim como 1969 está pro Rock. Construí um "In Rock" e um "Tommy" dentro de mim. Edições comemorativas. E em 2063, sentado na Pedra do Arpoador ou no Parque Dois Irmãos, vou lembrar de tudo. De todos os detalhes, de todos os sorrisos, de todas as angústias, esperanças e medos. E com certeza vou rir de tudo. No futuro a gente sempre ri de tudo, mesmo que nesse futuro exista um presente pelo qual a gente chore. Foi um ano, assim como todos os outros, bastante musical. Foram muitas as músicas de 2003. Tangerine, Pinball Wizard, Starry Starry Night, Time Stand Still, Samba do Grande Amor, Escravo da Alegria, enfim, se continuar, não acabo hoje. A vida, definitivamente, é a arte do encontro, pois são eles que ficam. Não vou lembrar dos desencontros em 2063, mas dos encontros, sim. E mesmo que lembre, não terão importância. Não sei se foram muitos os encontros, mas sei que foram importantes. Importantíssimos. Nem um Alzeinheimer me faria esquecer, pois vão sempre fazer parte de mim.

Começaria tudo outra vez, se preciso fosse meu amor...

Sei lá (27/03/04)

Sabe-se lá o quanto é que nunca foi
O quanto foi que não é mais
O quanto foi que nem era
O quanto é que ainda vai ser
O quanto vai ser que ainda não é
E o quanto é que talvez nem seja mais

Sabe-se lá o valor do inválido
A validade do estragado
O verme do que ainda é novo
O verme do que já apodreceu
E a parte que presta da carne podre

Sabe-se lá o que ainda resta do vazio
O que sobrou do esgotado
O que esgotou da sobra
E o que falta no que está cheio

Sabe-se lá a regra da exceção
Qual é a exceção à regra
E qual é a regra

A regra existe?
Sabe-se lá!

Tô fora (03/05/2004)

Há quem ache que o dinheiro é tudo. Há quem ache que tudo é dinheiro. Ainda há os que acham que vale a pena fazer tudo por dinheiro, já que ele é tudo. Por mais incrível que pareça, ainda há os que acham que isso é sinal de esperteza. Mas afirmo que a insensibilidade nunca vai ser sinal de inteligência. Lançar mão da sensibilidade por dinheiro é sinal de mediocridade. Muitos dizem que dessa forma eu não vou chegar lá em cima. Provavelmente, estão certos, pois meu maior interesse é chegar lá embaixo. Posso não ter a capacidade de conseguir mudar muita coisa, mas quero pelo menos incomodar, e para isso acho que não vai faltar disposição. Faço dessas minhas palavras: Tive, portanto, oportunidade de ver os operários e de estudá-los da manhã à noite. Nunca e em nenhum lugar, em nenhuma outra classe social, encontrei tanta abnegação, tanta integridade, verdadeiramente comovente, tanta delicadeza de maneiras e jovialidade unidas ao heroísmo como entre estas pessoas simples sem cultura, que sempre valeram e sempre valerão mil vezes mais que seus chefes. (Trecho de Confession (carta ao czar), Bakunin)