quarta-feira, outubro 10

O poeta e o poema

Com traços fortes,
Riso frouxo,
E muitos dentes,
O poeta tornou-se um poema.

No centro da Lapa,
No centro da roda,
Vejo-o dissipar alegria não mais com palavras escritas,
Muito menos declamadas,
Mas com a leveza e constância de seu sorriso
E com os ouvidos atentos de quem sabe enxergar o outro.

Sem a necessidade de palavras,
Que emprega como ninguém,
O poeta risonho tornou-se sua melhor obra
E pude observar no mundo em sua volta
O resultado da irradiação de seus versos mais bonitos.

A prostituta,
O bêbado,
A criança,
O músico
E o suposto malandro,
Dançam, tocam e cantam próximos aos arcos,
Sob a regência do poeta.

Eu, também recebendo essa energia,
Descobri que quando o poeta vive aquilo que escreve,
Torna-se um poema
Com uma capacidade extremamente superior de despertar no mundo
A beleza da descoberta dos sentimentos.

quinta-feira, junho 28

Equitativa

E a idéia, quiçá uma ilusão, ou talvez uma pretensão pela dúvida, de que as nuvens, o pôr do sol e o mar não dependem de nós, me fez sentir um desejo enorme de vê-los do lugar mais bonito todos os dias para que eu tenha a esperança renovada cotidianamente para entender que apesar das nossas dificuldades de lidar com as dificuldades alheias o sol continua nascendo e se pondo sem ligar para as nossas crises existenciais.

Por ele mesmo

Enquanto te enterravam no cemitério judeu
do Caju
(e o clarão de teu olhar soterrado
resistindo ainda)
o táxi corria comigo à borda da Lagoa
na direção de Botafogo
as pedras e as nuvens e as árvores
no vento
mostravam alegremente
que não dependem de nós

(Morte de Clarice Linspector - Ferreira Gullar)

sábado, junho 9

Margem

Eu vivo à beira.

Sou, ou quero ser, um ser marginal.

À margem do supostamente trivial, eu vivo.

Busco a diferença em tortuosos e já conhecidos caminhos.

Nada de novo.

Eu sou uma inovação do velho.

Tento me diferenciar por uma neurose já conhecida,

por uma incesante mania de ser mais,

que quanto mais quer ser, menos é.

Experimento o sonho em dias reais.

Tenho os amigos dos momentos certos,

embora em certos momentos eles não existam.

Choro com filmes sobre humanos,

me emociono com os equívocos de ser.

Sou e esqueço que sou em dias cinzas.

Tenho pequenas emoções que me fazem sentir grande.

Tenho grandes descompassos que me fazem sentir pequeno.

Eu quero ter filhas.

Sonho com a continuidade da vida,

mesmo que marginal.

Dúvida

Eram tantas histórias, com tantos detalhes, com uma sutileza ímpar, contadas minuciosamente, que eu me perguntava: como essa senhora vive tantas coisas se gasta todo seu tempo contando o que supostamente viveu?

terça-feira, maio 29

A Procura

Procurei descansar até terminar o sonho, ignorando que sua razão de ser está em sua infinitude. Tentei por algumas vezes continuá-lo, agarrá-lo, não deixar que a imagem saísse de foco ou que virasse som de telefone. Em vão, levantei para o outro sonho, que há quem diga ser a vida real. Demorei a torná-la um sonho e não há quem me faça desistir, embora por vezes, assim como nos sonhos em que todos concordam ser sonhos, tenha vontade de pará-lo, torná-lo menos intenso, ou ao contrário, torná-lo ainda mais intenso justamente pela sua descontinuidade.

Levantei com uma calma digna dos fins de semana, preparei-me lentamente na busca do que havia perdido há uns meses atrás. Estava calmo, certo de que o deixara em algum livro, caderno, no bolso de alguma calça jeans ou atrás da cama. A calma devia-se ao fato de saber que só achamos coisas, sobretudo quando importante, quando não as procuramos.

No caminho da ilha em que trabalho, tive a impressão de tê-lo encontrado em algumas músicas, mas a estranha fluidez do trânsito, impediu-me de vê-lo como um todo. O espaço em que tento transformar em arquipélago de sonhos por meio do compartilhamento de idéias dos que também ampliaram as suas idéias de sonho é um ambiente também propício ao desfacelamento do sonho contínuo, dividindo-o por conta da racionalidade excessiva ali presente.

Ao chegar no pequeno espaço que divido na ilha, sorri com os rostos expostos dos que há muito transformaram suas vidas reais em sonhos continuados. Os rostos expostos pelo amigo da vida toda, sorriam. Mesmo os sisudos. O amigo da vida toda, que expusera os rostos, encontrava-se angustiado pelo contato excessivo com os de racionalidade excessiva. O procurei para opinar sobre a necessidade de ceder em determinados momentos.

Certas práticas no pequeno pedaço da ilha quase me fazem acreditar na divisão sonho/vida real, mas logo me deparo com as marcas de quem já travou essa luta antes e as acho mais bonitas dos que as faces limpas dos que acreditam ter chegado à verdade.

Saio antes da ilha disposto a encontrar o que havia perdido em uma história há muito travada contra ou a favor da instituição mais antiga então vigente. Dei de cara com faixas, fruto da contemporânea luta que não sei ao certo ser a mesma que travo. Aliás, travo eu uma luta?

Procuro manter a estranha calma da manhã. Ando lentamente pelas ruas do novo bairro em que vivo em busca de novidades. Procuro o que havia perdido em algumas lojas, rostos e telefonemas não atendidos.

No fim da noite, início da madrugada, após voltar de um ritual dos que acreditam na separação sonho/vida real, que estranhamente gosto, procuro mais uma vez a lentidão da manhã, não muito normal pra mim. Procuro em pratos de comida, taças de vinho, páginas de livro e me convenço que só o encontrarei quando não mais procurar.

Descanso com a calma da manhã.

quinta-feira, março 15

Reverência

A esse coração que quer o mundo,
que quer partir e depois juntar tudo
que quer compartilhar todos os sentimentos egoístas,
que deseja companhia quando uma luz se acende
e evidencia toda a estupidez
do ciúmes,
da inveja,
da vaidade,

eu reverencio,
pois é o único que tenho.

sexta-feira, março 9

Pieguice gostoooosa

Hoje o meu dia amanheceu assim:
As palavras finais estão prolongaaaaadas,
Os textos que leio estão tão boniiiiiitos,
A saudade que bate apertaaaaada,
O carinho que cresce comigo.

Estou com aquele olhar vivo dos dias booons,
Sem a vista enevoada dos nem tanto,
Com uma clareza boa do meu sentimento
E sem o medo inútil que paralisa.

A violeta tá floriiiiida,
O quixote imponeeeente
O matin verdiiiiiin
Os miquinhos escondidos.

Hoje eu tô aberto pra balanço!

Desejo indesejável

As garras que te mostro,
O canto que te canto,
Os poemas que te escrevo,
O pranto que a ti confesso
O eu que sou teu

Não são suficientes para que esqueças
o que foi?
O que já passou e só ganha espaço
Porque não é mais?


Ainda bem que não...

segunda-feira, fevereiro 19

Quase 4 meses

E sigo sonhando
e sigo vivendo.

Vivendo sonhando a vida que o sonho me trouxe.

Pra ele acendo uma vela.

Andressa

Não mais que 9,
menina.

Com a toalha sobre os ombros,
evita a dor que o peso das bebidas
pode causar em sua coluna de
menina.

Aprende rapidamente a dissuadir
e facilmente esconde a sua face de
menina.

Menina,
não mais que 9,
sonha com o dia em que a tratem como
menina.

Em que não mais precise
usar as forças que não tem
para sustentar o peso das latas
que destróem a sua coluna de
menina.

Faz doer a minha alma
pela possibilidade de ser
a minha menina,
que antes dos 9
se utiliza de uma toalha
para diminuir a dor
que não sabe ser causada
pela frieza dos que não entendem nada de
meninas.

Só sentimos por conta da possibilidade de vivermos,
se é que me entendem.

sexta-feira, fevereiro 9

Dorme

Quando dormes, pareces o anjo que imagino
Quando acordas, és a mulher que desejo
Quando desejas, sou o homem que queres
Quando queres, nem sempre te satisfaço.

Diferimos em número, gênero e grau
Assemelhamo-nos em número, gênero e grau
És singular quando sou plural
Sou plural quando és singular.
Por vezes convergimos.

Se queremos de nós algo maior,
Se queremos dar fruto a outro ser,
Precisamos convergir na divergência
E buscar nos dias tortos,
A congruência de nossos passos tortos.

Não sei o que nos espera,
Além de uma lembrança eterna,
De um carinho gigantesco
E de um amor já sentido
Que nunca se “dessente”.

Seja lá o que for, meu bem,
Seja lá quem encontremos nos blocos
E o que o for acontecer,
Já te amo para sempre.

Poucos entendem o para sempre,
Mas certo de que sabes
Que certos sentimentos são eternos,
Por mais que momentâneos,
Deixo-te em paz,
Na calada da noite,
Pois assim a vida te quer.

Doce, suave, áspera, fogosa,
Cínica.

Te amo!

segunda-feira, janeiro 29

Sem saber

Faz tempo que aqui não falo de Clara, o que não quer dizer que a tenha esquecido. Depois de 4 longos meses, continuo a história da menina que me ajuda a compreender algumas de minhas dores, abrindo e fechando portas. Quatro meses em que recontei o que dela sabia, guardei coisas mais íntimas, encontrei uma carta da doce menina e preferi me calar por não saber ao certo o que ela gostaria que outros soubessem. Hoje, desisti, por achar que ninguém tem o direito de cobrar o silêncio de ninguém.

Clara dizia se incomodar com o mundo das palavras. “Por que não optamos pela linguagem dos olhares? As sobrancelhas dizem mais que juras de amor”, costumava dizer a menina. Já havia experimentado duas ou três vezes a paixão. A dúvida deve-se ao fato de uma delas ter se revertido no sentimento oposto, o que a fazia optar pela renúncia do que, de fato, havia sentido. Clara ainda não havia descoberto que só quem tem o poder de nos causar dor, é quem assume um lugar tão grande no coração que é capaz de comer um pedaço dele. Clara não teve tempo de descobrir que o coração também se regenera, que o sol nasce e se põe independente de suas dores e que fora dela havia uma infinidade de sentimentos esperando por alguém.

Nessa paixão renunciada, Clara nunca soube dizer ao certo o que sentia. Na dor sentida, também não. Preferia a negação. Mas sabia que em alguns momentos seu corpo dissera mais do que qualquer palavra poderia dizer, como no dia em que ainda menina se entregou nua, sem dizer uma palavra, pedindo para que o jovem rapaz de cabelos crespos, também nada dissesse. Clara esperava dele todo o carinho que seu corpo pedia, mas o jovem rapaz, que nada entendia de linguagem dos corpos, não compreendeu. Se ela dissesse algo, tampouco entenderia.

Para o entendimento entre duas pessoas necessita-se mais do que palavras ou linguagem corporal. É preciso sintonia, que por vezes nem o amor é capaz de gerar. É preciso renúncia de verdades e, inclusive mágoas, para que a comunicação se dê de forma clara. E Clara não soube, nem pôde renunciar suas mágoas. É preciso tempo e maturidade.

Sem saber, Clara guardou o sentimento que só alguém com aquela importância poderia gerar. Nunca soube expressar o que sentia com relação ao rapaz. Deixava em sua dúvida quanto à paixão sentida, a maior prova pros que soubessem de sua história de que a mágoa era a única forma de expressar a maior paixão que já teve. Para perdoá-lo, era necessário que não mais sentisse a paixão e dor que ele lhe causava. Sem saber, cultuava sua dor.

terça-feira, janeiro 9

Desejo boooobo

Eu, no auge da bobice,
queria que as pessoas carameladas da minha vida,
estivessem conectadas por um fio
ou por um mega infra moderno,
para que eu não perdesse nenhum comentário importante,
desses que caem de repente na cabeça,
perdem a graça logo e,
mesmo que encontre o caramelo 10 minutos depois,
não tem mais graça.