domingo, agosto 28

Aquilá

Estive lá,
ou seria aqui?
Se conta quando escrevo,
é aqui;
Se conta quando digito,
é lá;
Se conta quando eu sinto,
é confuso.
Muitas vezes estou lá,
achando que é aqui,
mas eu sei que é lá
pela falta do concreto.
É aqui no sentimento e talvez na imagem,
mas o físico permanece lá.
E eu quero viver aqui,
por menos bonito que seja,
porque é aqui que se faz o lá.

sábado, agosto 27

Pára Nuca

O para sempre e o nunca mais,
por mais instantâneos que sejam,
ou tenham sido,
são de fundamental importância na minha vida.

Para sempre lembrarei deles
e juro
nunca mais
colocá-los em questão.

quarta-feira, agosto 24

11 de Setembro

Ninguém escapa ao peso de viver assim;
Ser assim.

Eu não,
prefiro assim com você,
juntinho,
Sem caber de imaginar
Até o fim raiar.

(Morena - Marcelo Camelo)

terça-feira, agosto 23

Lambuzados

Ah, mas é claro que eu entendo o sorriso de cabide dos tucanos e dos que, apesar de não irem ao Maraca, pertencem ao time do "Eu já sabia" que ia acontecer todo esse lamaçal em Brasília:

Porco adora lama!

E quem pede

Relaxa, criança, só se acha quem se perde.

sábado, agosto 20

Hay que endurecer

Vem que tem,
Neném.
Com vírgula,
Por favor,
Porque não tem neném,
Mas tem, neném.
Então vem,
Mas vem sem calma,
Porque eu tô que tô,
Querendo uma vinda afoita,
Com direito a roupa rasgada.
Sai da moita
E vem correndo,
Porque já passou das sete
E eu não quero me prender na hora,
Mas quero te prender na hora.
Primeiro o pulso esquerdo,
Depois o direito.
Fique quietinha
E deixa que eu faço o trabalho inicial,
Mas não se acanhe!
Solte as amarras e me ganhe
Com esse olhar de ladinho,
Pedindo com carinho
Pra que eu perca o carinho,
Pero sin perder la ternura.

Seize the day - aceitamos contribuições

“Tornem suas vidas extraordinárias”

“Essa brincadeira de poder continua e você pode contribuir com um verso. Qual será o verso de vocês?”


(Sociedade dos Poetas Mortos)

sexta-feira, agosto 19

Um sonho de verão em pleno inverno

Um sol frio,
Praias desertas, apesar de lotadas,
Coqueiros repletos,
Porém altos demais.
Biquínis europeus,
Mulheres estadunidenses dançando a Macarena,
Com seus corpos esquisitos.

Desejo de verão em pleno inverno
Se transformou num inferno.
Um inferno interno.

quarta-feira, agosto 17

Habemus Apelido

Se você continuar com essa cara de cú, vou dar um Dom Casmurro em você.

Esse post é dedicado a MariaClaudiadeAlbuquerqueFarias, apesar de não ter nada a ver com ela. É só pra batizar. Tchothcofla aí pro batismo.

Guerra Declarada

Ó, MariaCristinaPereiraMartins - senhora das referências - eu não vou fazer referência hoje não, porque se essa música não existisse eu a teria feito hoje. Portanto, nada de Frejat e Cazuza, os versos são meus, só meus. E dedico esse plágio aos filhos da puta que roubam nossos versos.

Senhoritas das noites perfeitas,

Hoje, eu queria ter uma bomba ou um flit paralisante qualquer pra poder me livrar bem no último instante das suas frases feitas, das suas noites perfeitas, perfeeeeeeeeitas!

LÁ, SI, LÁ MI, RE, MI...

-Se Sobrá, me dá um pouquinho aí...
-Seu boçal, essa água que desce aí ardendo pela sua garganta não é desinfetante, não vai limpar porra nenhuma aí dentro!
-Gostaria de saber, meritíssimo, porque você usa esse bigode ridículo e se você já sabe que sua queridíssima esposa anda trepando com todo o Júri.

Michelle Ma Belle

“These are words that go together well”

Palavras que juntas caminham bem

(Beatle Paul – tradução: Flávio Chedid)

terça-feira, agosto 16

Ser o que ele é e quiser

A brincadeira com o lema dos milicos cantada por Gil, Caetano, Gal e Bethânia é um dos auges dos Doces Bárbaros junto com o hilariante e trágico julgamento do Gil. É uma coisa linda que faz doer os ossos lá no Arpoador num final de tarde de uma segunda feira com sol se ponto no lugar errado, ops, diferente. Falo da música, é claro.

O seu amor
Ame-o e deixe-o
Livre para amar
Livre para amar
Livre para amar
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ser o que ele é
Ser o que ele é
Ser o que ele é

(O seu amor- Gilberto Gil - sob efeito da erva maldita)

Não há dor no Arpoador

Hoje tive a impressão de que o sol se pôs no lugar errado. E foi só impressão, ele se pôs num lugar diferente. Num lugar novo. Errado e novo são extremamente distantes, apesar de certas vezes confundi-los. E o novo nem sempre é novo. Há velhos que são sempre novos, ó o arpoador aí. E há novos muito velhos, ó os moderninhos de plantão aí.

Hoje senti um perfume velho vagando na rua. Depois pensei que se fosse tão velho assim como o sentiria a troco de nada? O perfume mesmo velho era novo. Não passou? Passou, mas o perfume ficou. Há sempre um tanto de novo no velho e um tanto de velho no novo.

O Arpoador
.....................Assusta,
Por mais que não haja dor ali.
O Arpoador,
......................É sempre novo
Por mais velho.
...........................O sol nunca se põe no mesmo lugar.
Ou seria impressão minha?

domingo, agosto 14

Com "u" mesmo

Neste país,
Enquanto fudido continuar fudendo fudido a serviço de um fudedor-mor,
Que, aliás, é o único que goza nessa fudelança toda,
Não haverá panelaço que solucione.

Enquanto em todos pequeninos detalhes,
Tirar vantagem for sinal de inteligência,
E apenas o seu vizinho, compadre ou alguém com afinidade próxima
For digno de respeito,
Não haverá indignação digna de mudanças.

Enquanto a indignação continuar sendo dirigida a "eles",
E nunca ao "eu",
E continuarmos vivendo num país de "eles",
Fudeu,
Porque “eles” vão continuar fudendo tudo e botando a culpa em “eles”.

quinta-feira, agosto 11

Bang Bang

Mocinha,
é preciso parar de procurar o vilão.

Dengo d(qu)e re(n)de

Vem cá, mulé,
Me faz um cafuné,
Que hoje eu quero um dengo molengo,
Daqueles de rede,
Morrer de sede
Pra não perder a posição,
Entrelaçar as pernas
E deixar que elas formiguem,
Me encolher no teu colo
Pra que você me carregue.
Vou no teu embalo sem sair do lugar,
Morro no teu colo sem reclamar,
Digo nomes sem sentido
Pra ver tua reação.

Adoro quando faz essa cara
De quem não entendeu,
Adoro quando encontra um cravo
E me pede pra espremer,
Adoro fingir que não gosto,
Adoro sentir o teu gosto
E também o teu gosto.
Adoro dormir mal ao teu lado,
Todo torto e preocupado,
Só pra te ver acordar de mau humor,
Murmurando palavras em grego
E reclamando do cobertor,
Que eu puxei pra mim.

Vem cá, menina,
Me faz um cafuné
E vamos pensar em nomes
Pra quando o mundo melhorar.

segunda-feira, agosto 8

Tuiuiu

Descobri onde cresci.
Foi logo ali,
No morro do Tuiuti.
Mesmo em casa,
Vivia ali,
No morro do Tuiuti.

Ali
-No morro do Tuiuti-,
Joguei bola e me casei.
Cai do altar e até chorei.

Confesso que por muito esqueci
Do morro do Tuiuti,
Mas hoje lembrei de onde vim,
Das 7 mulheres da Dona Sebastiana,
Da minha infância regada a brigadeiro,
Dos simples gestos e pessoas que formam uma pessoa.

Modéstia à parte,
Eu vim dali -
Do morro do Tuiuti.

domingo, agosto 7

Amor de fôrma

Eu aqui, ouvindo Belchior,
Pensando em ré menor,
Sei que a vida urge
E não hei de deixar meu blusão de couro,
Que ainda não tenho,
Se estragar no armário.
Será na estrada,
Na maldita e desejada estrada
Que me faz inventar meu próprio ser.

“O amor somente é tão banal”
Tão tão tão, que vem sendo vendido na padaria.
Dizia a menina desesperada: “me vê dez amores franceses, por favor”.
Tão tão tão mais fácil,
Que quando acabava, bastava pedir mais dez.

Ah, maldita mania de falar da praticidade dos outros.
Maldita mania de pensar na complexidade do eu.
Maldito egocentrismo que teima em banalizar o que há de diferente.
Narcisismo idiota!

sexta-feira, agosto 5

Sem dinheiro no banco

Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve
Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve
Sons, palavras são navalhas e eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém
Amar e mudar as coisas me interessam mais

(Apenas um rapaz latino americano – Belchior)

Dúvida ortográfica

Depois de dois trilhões e quatro milésimos de segundos (já pensaram na estranheza desse número?), viu a foto. Não sabia se ainda se tratava de um quadro ou se já tornara um ex-quadro. Esquadro, prestando atenção em cores sem saber o nome. Em fotos sem saber o título. Em quadros sem saber com que sensatez mereceriam ser vistos. Sem saber se é preciso sensatez. Sabendo o quão idiota é fingir não saber. Sabendo que a estrutura textual disposta não agradaria e que sua ânsia por ibope, mesmo revestida por uma discrição mentirosa, falsa e estúpida, exigiria uma coisa mais ousada, por mais que falasse a mesma mesmice. Sempre quis escrever "mesma mesmice". É com "c" mesmo?

quinta-feira, agosto 4

Astrid

Chegou em casa com uma atormentada sensação de falta de sensação. Tinha vontade de pular na cama assim que a visse. Desesperou-se ao perceber que havia vários objetos em cima dela que não poderiam ser arremessados no chão de qualquer maneira. Nem que fosse para fazer uma cena bacana antes da transa com a atriz de “5 rapazes em Liverpool”. Nem por ela poderia arremessar seu estimado violão no chão, muito menos sua guitarra de raios azuis discretos. O que será que faziam o violão e a guitarra em cima da cama? Não lembrava de tê-los colocado lá. Será que tiveram uma transa bacana? Será que arremessaram no chão alguns objetos que ali estavam antes deles?

Pensou: “Não seja bobo, isso não é necessário e violões não transam com guitarras. Ou transam?”. Se a guitarra tiver aqueles olhos pode ser que transem, mas esses raios azuis são muito discretos. Pensou que talvez o violão pode ter se apaixonado justamente pela discrição. E também pensou que eles não precisavam estar apaixonados para darem uma trepadinha. Um sexo casual entre um violão e uma guitarra é algo esquisito, porém compreensível.

Retirou-os com um certo cuidado da cama, mas não o merecido. Era tarde, era frio, faltava sensação e queria enfiar a cabeça no travesseiro. Queria esquecer de esquecer. Queria não precisar esquecer nem fazer jogos de palavras pra esconder o real sentido das coisas, que nem ele sabia qual era.

Dormiu pensando que só perde um amor quem ama, ou pelo menos quem amou. Sonhou com raios azuis discretos. Acordou com alguma sensação.

quarta-feira, agosto 3

Sonho não se dá

Tenho que admitir: esse foi do Amarante! Não sei maaaaais!

Quis nunca te perder
Tanto que demais
Via em tudo o céu
Fiz de tudo o cais
Dei-te pra ancorar
Doces deletérios
E
Quis ter os pés no chão
Tanto eu abri mão
Que hoje eu entendi
Sonho não se dá
É botão de flor
O sabor de fel é de cortar

Eu sei, é um doce te amar
O amargo é querer-te pra mim
Do que eu preciso é lembrar, me ver
Antes de te ter e de ser teu
Muito bem

Quis nunca te ganhar
Tanto que forjei asas nos teus pés
Ondas pra levar
Deixo desvendar
Todos os mistérios

Sei, tanto te soltei
Que você me quis em todo lugar
Lia em cada olhar quanta intenção
Eu vivia preso

Eu sei, é um doce te amar
O amargo é querer-te pra mim
Do que eu preciso é lembrar, me ver
Antes de te ter e de ser teu
O que eu queria, o que eu fazia, o que mais
Que alguma coisa a gente tem que amar, mas o quê?
Não sei maaaaaais!
Os dias que eu me vejo só são dias que eu me encontro mais

E mesmo assim eu sei tão bem: existe alguém pra me libertar!

(Condicional - Rodrigo Amarante)

terça-feira, agosto 2

Pessoa Maior

PARA SER GRANDE, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

(Fernando Pessoa)
(Grifo dele)

segunda-feira, agosto 1

Há algo além

Coisa linda, Paulinho. Sua emoção ao tentar ler o poema da menina hoje salvou meu dia. Ver coisas bonitas, sensações bonitas, pessoas bonitas faz muito bem. Foi sincero e é tão bom ver coisas sinceras. Há algo além.

As gotas de melancolia, a rede que côa as memórias boas, o cheiro de mato...

Desejos bucólicos são desejos de grávida. Aparecem no meio da madrugada, no meio do trabalho, no meio da vida, no meio do fim. Também preciso sair dessa ilha! Preciso ir além, além do que vejo, além do que sinto. Preciso aprender a nadar antes que as gotas alaguem a ilha. E deixar de ser piegas também.


Chove uma chuva fina e triste
Na minha alma
caem gotas de melancolia
Ao me lembrar da alegria
Dos bons tempos idos.
Tudo me adivinha
Nesta hora de garoa.
Lanço minha rede e ela côa
O que chega de mim de memória boa.
Este estado melancólico
É, no fundo, desejo bucólico
De cheiro de mato,
De sítio com galinha, cachorro e pato,
Do perfume de terra molhada.
Vontade de partir dessa cidade ilhada
De erros cometidos pela ganância escrachada -
A fome do desvalido,
O choro bandido,
A cidade dividida
Em banquete e latrina -.
Tudo fere - a menina
Pobre sem escola,
Mais à frente o menino que cheira cola,
O mendigo no passeio pedindo esmola -.
No ermo dos questionamentos meus,
Não consigo encontrar Deus,
Mas, ainda assim, dentro da órbita,
Peço paz ante a constatação mórbida:
Cheiro de mato,
Sítio com galinha, cachorro e pato,
O perfume de terra molhada
E meu amor comigo na estrada

(Paulo Sabino)