sexta-feira, fevereiro 22

Recíproca

Uma profunda vontade de dizer o que vem à mente
Uma necessidade ímpar de compartilhar as angústias vividas
Uma oportunidade única de fundir as vidas,
De fazer dos nossos desejos íntimos,
Segredos.

Embora segredos sejam feitos para ser contados,
A idéia de que teu segredo foi revelado
E, sobretudo, aceito,
Ajuda a suavizar as regras que te foram ensinadas
E que de certa forma ajudas a prosseguir.

Nada, nada, nada no mundo substitui a sensação da reciprocidade
Do amor da amizade.

A admiração quando retornada
Facilita as dificuldades da vida
E retira a importância das deusificações desnecessárias.

Ah, se soubésseis o quanto que vos estimo!
(sem deusificação)
Com uma enorme vontade, quiçá necessidade,
De aceitá-los exatamente como são
(talvez por uma vontade estúpida de diminuir as minhas cobranças).

Tenho certeza da maior fluidez de seus pensasentimentos
(embora alguns já tenham uma fluência excelente),
Quando são tudo que podem ser.

A vontade de tê-los por perto toda vez que sinto o melhor de mim,
Denuncia o amor mais sincero,
Embora haja nesse desejo uma autopropaganda,
O que não acredito diminuir a intensidade do companheirismo aí presente.

Deixando de lado as generalizações
E com uma enorme vontade de declarar,
Tenho ao meu lado doçuras tão belas
Que ao mesmo tempo em que compartilham comigo as amarguras da vida,
Exalam perfume, vontade de entender,
E sonham com o que os que os sabidos da vida consideram utópico.

Mal sabem que a utopia é o não-lugar do presente,
Mas que tem uma influência única sobre o futuro,
Ou não é o futuro construído pelos mesmos seres capazes de serem utópicos?!

Dito o que veio a mente,
Declaro a vocês todo amor que me fazem sentir.

quinta-feira, fevereiro 14

Filha do Paul

A menina Clara gostava dos momentos em que ouvia música e tinha certeza de que o minuto seguinte seria mudado repentinamente. Quando ouvia She´s leaving home sabia que Paul era o homem de sua vida e que a solidão que sentia em seu quarto era compartilhada por ao menos mais uma pessoa nesse mundo. Sentia uma força imensa e alimentava sua coragem ao ouvir a história contada por Paul da menina que saía da casa dos pais depois de viver só por muitos anos.

Após disso, a vida lhe trazia uma dose de realidade que não gostava de sentir, causava desconforto, pois lhe confundia a cabeça. Os papéis não eram tão bem definidos, o que queria não estava tão claro. A única certeza que continuava a ter era de que Paul era o homem de sua vida, pois conseguia caminhar pelos dois pólos que a atormentava. Podia ser tanto a menina que saía de casa como o pai que sentia a dor de sua partida.

Once there´s a way to get back home.

A frase poderia ser dita pela mesma menina, poucos anos depois.


A esperança de ter no fim todo o amor que produziu fazia com que Clara esperasse o fim com uma certa ansiedade. E pensava além, gostava de imaginar que o amor produzido em seu quarto solitário seria sentido e distribuído por alguém como Paul, ou que ao menos chegasse até ele pela inexplicável capacidade humana de transmitir os sentimentos dos quais não sabem a origem.

Clara sabia que se de certa forma avançávamos, isso nada tinha a ver com a ciência, mas sim com a capacidade humana de transmitir os pensamentos e sentimentos que nem sabiam de onde vinham.

Clara sempre sonhava, ao ouvir She´s leaving home, com um pai que desejasse como nunca tê-la.