domingo, julho 31

um caminho só e só -deixe guardado.

já vou! será?
eu quero ver!
o mundo eu sei, não é esse lar.
por onde andar?

eu começo por onde a estrada vai.
e não culpo a cidade, o pai.
vou lá andar.
e o que vou ver?
eu sei lá!

não faz disso esse drama, essa dor.
é que a sorte é preciso tirar pra ter.
perigo é eu me esconder em você...
e quando eu vou voltar quem vai saber?
se alguém numa curva me convidar
eu vou lá!!
que andar é reconhecer
olhar

eu preciso andar um caminho só.
vou buscar alguém que eu não sei quem sou.
eu escrevo e te conto o que eu vi e me mostro de lá pra você.
guarde um sonho bom pra mim!?

(Primeiro Andar-Rodrigo Amarante)

sábado, julho 30

Coração vulgar na espuma do mar

Vendaval, carrossel
Segue a vida a rolar
Pé na estrada, pó de estrelas
Coração vulgar

Que navega no céu
E navega no ar
Grão de areia a vagar

Caravela, pão e mel
Segue o circo a rolar
Picadeiros, primaveras
Coração vulgar

Que navega no céu
E navega no ar
Grão de areia a viver
Na espuma do mar

E o grão de tão pequeno
Ser tão grande
O que a gente é
Ter esse destino
De pessoa que sonhou...

Que navega no céu
Que navega no ar
Grão de areia a bailar
Lá no fundo do azul

E anda que nem bola
Como a vida
Quando quer brotar
Rola como anda
Que nem fonte de calor...

Barricadas, cordilheiras
Coração vulgar
Que navega no céu
E navega no ar
Grão de areia a vagar
Na espuma do mar

Aventuras, cicatrizes
Segue o mundo a rolar
Diamantes do universo
Coração vulgar

Que navega no céu
E navega no ar
Grão de areia vagar
Na espuma do mar

(A Via Láctea - Lô Borges e Ronaldo Bastos)

quinta-feira, julho 28

Razão Mentirosa

Pensar com a razão,
Não,
Com o coração,
Também não,
A solução é não pensar?
Não, não.

Não há solução
Nem pensamento que solucione

O meu coração soluça
E a minha razão nada soluciona
Sem poder ouvir os dois,
Pra quem devo apelar?

Ah, coração soluçante,
Insolúvel, apesar de despedaçado,
Haverá de encontrar uma solução
Antes que a razão solucione.
Porque a razão, na verdade,
Nada Soluciona
Apenas aprisiona um coração soluçante,
Com medo de um piripaque qualquer
Com medo dos soluços,
Que doem até fisicamente

E mente.

terça-feira, julho 26

Mundo verde-escuro

E nesse verde escuro do mundo, acho que já esqueci o vermelho. Esqueci o prazer do roxo amarelado e do lilás alaranjado. Tudo bem, não faço questão das cores tropicais, mas quero, ao menos, a parte verde escura que me cabe. E pra isso, tenho que lembrar de algo que não lembro agora, porque a vida, meu bem, nem sempre tem o vento a favor. Na maioria das vezes a maré é contrária e eu já perdi a fala há tempos nessa mania de querer falar algo infalável. Ah, Flávio, inFlávio, não joga contra o patrimônio e suba do baixo da sua estima para algo que lhe seja cabível.

Bebendo água de madeira
Bobeira
Besteira
Não suma
Assuma
O que resta de insumo
Pra esse supra-sumo
É nada mais do que nada
Mais do que nada

segunda-feira, julho 25

Queria que tudo

Tudo que queria era apenas um pouco mais de calma pra levar a vida. Levá-la com a leveza merecida - para ele também -, mas nem sempre possível. E quando pensava dessa maneira, ficava filosofando e teorizando tudo acerca do possível. O que é possível? Chegava a conclusão de que se desejava e não conseguia é porque não era possível. Depois pensava que esse pensamento era apenas mais uma forma de simplificar as coisas, reduzir a discussão, uma forma de pensar menos, porque pensar era, por vezes, o que mais o atormentava.

Tudo que queria era um pouco menos de angústia pra levar os dias. Levá-los com o sossego merecido – para ele apenas -, mas isso nem sempre era possível. Porque ao pensar dessa maneira, se angustiava. Ficava angustiado e ansioso esperando o dia que não seria mais angustiado e ansioso. Chegava a conclusão que a melhor coisa a fazer era se permitir ser angustiado e ansioso, porque assim, ficava angustiado e ansioso uma vez só. Depois pensava que essa era apenas mais uma de suas preguiças, tinha preguiça de deixar de ser angustiado.

Tudo que queria era um pouco mais de paz. Lera por aí que a dor é inevitável, mas que o sofrimento é opcional. Queria poder optar, mas será que não o fazia por preguiça também? Ou seria uma questão ancestral, mal resolvida, psicanálitica, uma dessas coisas que acontecem quando a sua mãe não te deixar chupar o dedo do pé quando se tem apenas alguns meses de vida?

Tudo que queria era parar com essa mania-doida-de-gente de querer explicação pra tudo e levar a vida (e não que ela o levasse), com calma, leveza e paz. Não, nem tanto vai, com um pouco mais de calma, leveza e paz (percebam a diferença). Ou com um pouco menos de atormento (diferente de sem atormento), porque sem um tiquinho disso ia ficar chato também.

Tudo que queria era escrever, seja lá o que fosse, pra soltar o que nem sabia se era o que estava sentindo.

quinta-feira, julho 21

Mais um

Caralho, caralho, caralho voador. Dia do amigo de cú é rola!

Há uma vala

"O abismo que é pensar e sentir".

quarta-feira, julho 20

Em busca da terra do nunca

- Eu quero uma música, eu quero uma música, eu quero uma música que fale disso. Que fale desse querer infantil, meio tolo, que é querer uma música. “Uma” não, “A”. Eu quero a música. A música! Que fale desse jeito bobão, meio gago, de repetir que eu quero “a” e não “uma”.

- Ela não existe, ela não existe. Cada minuto, cada sentimento novo, cada microsegundo é uma música diferente. Não procure a música, nem que seja dentro de ti, porque como constatou a Clarice, cada coisa tem um instante em que ela é. O microsegundo que passou era uma música, agora já é outra, que já passou também. É o instante-já da Clarice. O “instante-já” é mais rápido do que o “de repente, não mais que de repente”.

- Impossível, nada é mais rápido do que aquilo. E deixa eu buscar a música. A música, A! Você aí, imitando o meu modo de repetir, também busca suas explicações nos livros. O instante que a Clarice escreveu isso também já passou. Talvez não faça mais sentido, talvez só faça sentido pra alguns, talvez só pra você. Aceite que certos sentimentos já existiram e não me venha com suas teorias ineditistas. Nada é tão novo e eu quero encontrar respaldo, conforto em alguma música. Em alguém que já tenha sentido o mesmo.

- Você quer encontrar conforto pro seu sentimento ou quer encontrar um sentimento já sentido? Porque dessa maneira você não molda sua vida, ou melhor, você a molda baseado em sentimentos alheios, porque assim é mais fácil. Sinta, sinta, sinta, me deixe repetir como você e só sinta. O resto vem. Ou vai. Sentindo vem a sua música, que mudará e moldará. Não tente encontrá-la a não ser que queira apenas uma aprovação pro que sente.

- Talvez seja isso, talvez você tenha razão. Talvez não. Caso sim, qual o problema de buscar a aprovação ou uma experiência parecida? É difícil ser pioneiro, até num sentimento, é difícil admitir isso, mas eu quero, por vezes, saber o que devo sentir. Nossa, que coisa horrível que acabei de falar. Você ouviu? Era melhor ter falado sobre o “caso não” pra evitar atos falhos como esse. Buscar aprovação no que sente é tão ruim assim?

- Só pra você. E é muito ruim pra você. Muito, muito, muito. Acho que só você pode fazer idéia do quanto. É só parar pra pensar no que tem se passado nessa caixola. Reprovação do que sente? Não minta, nem tente dizer que o que sente é demente, pois demente é querer demonizar o que sente.

- Uou, o papo da música tava melhor. Achei, ó só: “apenas te peço que respeite o meu louco querer”. E mais essa frase aqui “apenas te peço que aceite o meu estranho amor”. Viu?

- Vi, é você quem tem que respeitar e aceitar. Só você!Deixa de ser egocêntrico a ponto de achar que as pessoas se preocupam tanto com o que se passa com você. Só você, só você, só você. E eu preciso parar de ficar repetindo as palavras feito um idiota.

quarta-feira, julho 13

Friozão

Hoje parecia frio
Meu quarto é úmido e ainda não havia saído de casa

Hoje parecia úmido
Meu quarto é frio e ainda não havia saído de casa

Meu dia frio e úmido parecia triste
É que meu olhar é estreito e limitado
E de tão estreito e limitado pouco me vê
Pouco se vê

Pouco se vê quando não se vê
Pouco vejo quando não me vejo

Fazia tempo que eu não olhava pra mim
Fazia tempo que eu pouco via
Não que agora eu veja muito
Mas, ao menos, vejo que pouco vejo

Esse meu olhar estreito e limitado só podem resultar em dias frios e úmidos
Preciso sair de casa
Sem deixar de olhar pra casa

sábado, julho 9

Passou

É que quando eu acordei,
Com a incosequente turbulência na minha cabeça,
Eu tava com cheiro de carinho.

Vocês já sentiram cheiro de carinho?

quinta-feira, julho 7

Papos rápidos

Eu também quero saber. Ah, quem não quer? Aliás, esse cérebro eletrônico não me dá socorro. Faz quase tudo, mas é mudo. Comanda, mas não anda. Gostei muito, Sarcé. Fico aqui rindo da cara de tacho desse computador que acha que tudo pode, mas não consegue sair pra passear. Ele até fala algumas coisas hoje em dia, mas se o Gil dissesse isso naquela época iam falar que era papo de maconheiro.

Ah, eu falava sobre o que queria saber, mas a música acabou e esqueci o que queria. Agora tô pensando no tempo em que o medo era motivo de choro, desculpa para um abraço ou um consolo. Um abraço de uma coisa sua que ficou em mim é uma cena linda, linda demais. Putz, o abraço de uma lembrança. Que imagem bonita. Coisas que ficam, que não têm fim. Isso é deveras bonito. Ah, desculpa, eu queria falar “deveras” de alguma maneira.

Agora tô vendo tudo enquadrado. Não é a cachaça-com-madeira-dentro-que relutei-contra-mas-não-resisti. É a Adriana aqui no rádio. Ah, que bonito, esse rádio tá tão legal hoje. E eu tô tão bobo. Mas bobo mesmo é o Gonzagão com a Mariana. Chegue aqui minha bichinha, chegue mais, amor. Dê um choro bem cheiroso aqui no seu vovô. E o ciumento do pai: Se o vovô ganhou um cheiro, eu também quero ganhar. Haha, menina de sorte!

Sabe, meu coração, sei lá porque, fica assim, tá vendo? Ih, é versão instrumental!

Mas sabe, a gente fica até sem querer ler jornal. Deprime. Seria medo de perder a inocência? É isso? Mas não tem jeito. São os revides, sabe? Ninguém mais acha que tá errado. Tá todo mundo compensando de alguma maneira a injustiça sofrida. Tá todo mundo querendo pegar a sobra. As pessoas estão vivendo das sobras. É como se todo dia fosse o último dia. Como se não houvesse amanhã? Mas precisa haver amanhã? É burrice, é muita burrice. Será que a gente não percebe? Eu ia escrever: “Será que eles não percebem”, mas tá todo mundo querendo tirar o rabo da jogada e vi que tava fazendo exatamente isso. Será que não percebemos que isso é autoflagelação? Não acredito que haja tanto masoquista!

Mas, deixando o resto pra lá, eu quero a morena dos olhos d’água. Porque apesar de tudo, a vida ainda vale o sorriso que eu tenho pra lhe dar.

terça-feira, julho 5

Festa imodesta

Sentimento atrasado
Perdeu o trem das sete
E chegou no meio da festa

O bonde já estava andando, baby
Não se entulhe com suas neuroses e hipocrisias
Ignore o "se" e as conjunções adversativas

Sentimento cancerígeno
Retarda e emburrece
Perdeu o trem pras estrelas
E chegou como um tiro na testa

Cospe o que te atrasa
Escarra o que te emburrece
Deixe a lambança pra ressaca
Porque nessa noite eu quero dançar até as sete

A tempo

Conselho Cazuziano deve ser seguido:

Eu te avisei: vai à luta
Marca o teu ponto na justa
O resto deixa pra lá
Deixa pra lá...

Vai à luta...
Porque os fãs de hoje
São os linchadores de amanhã

(Vai à Luta – Cazuza / Rogério Meanda)