sexta-feira, março 17

Gelatina

E a vida passa. E a vida passa. E a vida corre.

Por mais que tente pegá-la, agarrá-la, mesmo por um ínfimo momento, não conseguirás. É como uma gelatina pululante, que se esparrama pelos dedos, no difícil momento em que consegues tê-la em mãos. Aliás, não a tens em mãos. Ontem, alisaste a vida, eu sei, e achaste que fosse capaz de segurá-la. Ledo engano, menino inocente. Talvez porque esteja com a noção errada do que seja ter a vida em mãos.

Controlá-la?

Se é isso que pensas, pena de ti. Pois nunca conseguirás e mesmo que conseguisses, terias um insuportável sabor de chatice misturado com a amargura da onipotência, que a vida – essa mesma que não consegues agarrar – te fez ter. Controlá-la significaria perder o prazer – o maior da vida – do imprevisível, que te faz mudar os planos que tanto prezas, mas, que no fundo sabes, insuportáveis.

Agora, ter a vida em mãos pode ser a consciência de que não ela não é controlável e de que é o imprevisível, o não controle, o que mais te causa prazer. A tem em mãos no momento em que não a tem. Sim, sei que parece filosofia barata. Redefinirei.

Saber alguns dos meandros da vida, ou ao menos da tua vida, é a consciência necessária para te livrar das angústias da vulnerabilidade que sentes, pois tal consciência te mostra o quanto gostas desta gelatina pululante, desta incerteza diária, desta vulnerabilidade que tanto te angustia. Não pela angústia, mas pelo prazer da incerteza que te causa. Será que pela angústia também?

E a vida voa. E a vida voa. E se esparrama.

Nenhum comentário: