segunda-feira, janeiro 29

Sem saber

Faz tempo que aqui não falo de Clara, o que não quer dizer que a tenha esquecido. Depois de 4 longos meses, continuo a história da menina que me ajuda a compreender algumas de minhas dores, abrindo e fechando portas. Quatro meses em que recontei o que dela sabia, guardei coisas mais íntimas, encontrei uma carta da doce menina e preferi me calar por não saber ao certo o que ela gostaria que outros soubessem. Hoje, desisti, por achar que ninguém tem o direito de cobrar o silêncio de ninguém.

Clara dizia se incomodar com o mundo das palavras. “Por que não optamos pela linguagem dos olhares? As sobrancelhas dizem mais que juras de amor”, costumava dizer a menina. Já havia experimentado duas ou três vezes a paixão. A dúvida deve-se ao fato de uma delas ter se revertido no sentimento oposto, o que a fazia optar pela renúncia do que, de fato, havia sentido. Clara ainda não havia descoberto que só quem tem o poder de nos causar dor, é quem assume um lugar tão grande no coração que é capaz de comer um pedaço dele. Clara não teve tempo de descobrir que o coração também se regenera, que o sol nasce e se põe independente de suas dores e que fora dela havia uma infinidade de sentimentos esperando por alguém.

Nessa paixão renunciada, Clara nunca soube dizer ao certo o que sentia. Na dor sentida, também não. Preferia a negação. Mas sabia que em alguns momentos seu corpo dissera mais do que qualquer palavra poderia dizer, como no dia em que ainda menina se entregou nua, sem dizer uma palavra, pedindo para que o jovem rapaz de cabelos crespos, também nada dissesse. Clara esperava dele todo o carinho que seu corpo pedia, mas o jovem rapaz, que nada entendia de linguagem dos corpos, não compreendeu. Se ela dissesse algo, tampouco entenderia.

Para o entendimento entre duas pessoas necessita-se mais do que palavras ou linguagem corporal. É preciso sintonia, que por vezes nem o amor é capaz de gerar. É preciso renúncia de verdades e, inclusive mágoas, para que a comunicação se dê de forma clara. E Clara não soube, nem pôde renunciar suas mágoas. É preciso tempo e maturidade.

Sem saber, Clara guardou o sentimento que só alguém com aquela importância poderia gerar. Nunca soube expressar o que sentia com relação ao rapaz. Deixava em sua dúvida quanto à paixão sentida, a maior prova pros que soubessem de sua história de que a mágoa era a única forma de expressar a maior paixão que já teve. Para perdoá-lo, era necessário que não mais sentisse a paixão e dor que ele lhe causava. Sem saber, cultuava sua dor.

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