segunda-feira, outubro 4

Um estudo de caso exploratório sobre minhas reminiscências ou uma reflexão sobre os "quereres"

Tenho tanta coisa pra escrever que acabo ficando sem nada, pois falta uma unidade de análise, um objeto bem definido. Aliás, essa é também minha maior dificuldade pra escrever a monografia. Será uma limitação minha? Uma dificuldade de obter foco na vida? De querer abraçar o mundo com as pernas, antecipar um futuro ou retardar um presente? Taí, dificuldade de viver o presente talvez seja uma boa unidade de análise.

Será que é verdade que quem tá fora quer entrar e quem tá dentro quer sair (João das Coves apud dito popular, pág desconhecida)? Essa é a nossa (um estudo científico exige que não usemos a primeira pessoa do singular, por mais que a primeira e única pessoa da pesquisa seja eu mesmo com toda a minha singularidade) hipótese. Sem a necessidade de explanar uma teoria, faremos um estudo de caso único, mesmo porque entender a si mesmo já é uma missão muito árdua, impossibilitando a viabilidade de qualquer tipo de pesquisa com uma amostra mais significativa. Mas também podemos considerar que uma única pessoa traz em si muitas outras que passaram e continuam passando, tornando-a uma amostra relativamente significativa no universo. Gente é gente. Nesse estudo de caso abordaremos a pesquisa-ação-mais-que-integral-e-mais-que-sistêmica, pois o ator envolvido no caso está mais do que comprometido com a participação na pesquisa. Pesquisador e pesquisado confundem-se de uma maneira nunca vista anteriormente.

Primeiramente, trabalhamos com um levantamento histórico, usando como ferramenta única o poderoso Guliver. Dados interessantíssimos foram extraídos, como a vontade de ter aparelho quando muitos dos seus amigos pareciam bonitos com a parafernália nos dentes. Além desse, outros mais esquisitos como vontade-de-ter-óculos e, pasmem, vontade-de-ficar-com-o-rosto-descacado também foram identificados. Algumas outras informações mais sigilosas foram obtidas, mas o respeito e o comprometimento mútuo obtido na pesquisa nos impede de veiculá-las, tendo o entrevistado permitido que disséssemos uma delas: também tinha vontade de ter espinhas, ainda que numa versão light, pois essas representavam a maturidade.

Todos esses dados podem ser confrontados com outros casos, que apesar de não terem sido estudados, fazem parte do conhecimento acumulado do pesquisador e do chamado "senso comum", que representa também o conhecimento acumulado desses que me lêem. Essas experiências mostram que quem usa aparelho e óculos não estão satisfeitos com suas respectivas condições. Podemos dizer a mesma coisa dos quem tem o rosto descascado, que além de reclamarem da aparência, sofrem com a dor causada pelos raios ultravioletas. Os detentores de acne encontram-se na mesma situação destes últimos.

Como já foi falado, não há a pretensão de generalização de uma teoria, mas o diagnóstico desses dados levantados mostra claramente a insatisfação de todos com relação às variáveis abordadas (ter espinha, descascar, usar óculos e aparelho). Outros casos, também não tão bem estudados, podem ser citados apenas com o intuito de gerar uma reflexão ao leitor, como a eterna insatisfação das morenas que querem ser loiras e vice-versa. Isso para não falar das que têm cabelo liso que querem ter o cabelo encaracolado e vice-versa mais uma vez.

Essa primeira parte da pesquisa consistiu apenas no uso da memória para o confrontamento de dados, que por sua vez tem o intuito de gerar uma reflexão sobre os "quereres", deixando o leitor livre para eventuais conclusões. A próxima etapa da pesquisa ainda depende de verbas de tempo que podem ou não ser liberadas pelos organismos responsáveis: o ócio e a insônia.

Nenhum comentário: