sexta-feira, setembro 15

Harmonia dos sentidos

Quando os olhos entravam em sintonia com as glândulas lacrimais, os ouvidos faziam pelos se arrepiarem e subia pelo corpo toda a plenitude do momento, em que celebrava, sobretudo, o presente, Clara pensava: quem me dera agora ter comigo um violão e saber tocá-lo. Apesar das inclinações musicais, a menina nos 20 anos vividos não tivera tempo pra se dedicar ao talento que ainda não sabia que tinha.

Talvez isso permitisse a Clara ir além. Não parando para compor, tocar, escrever, Clara ia além nos seus sentimentos. Não os cortava, sentia apenas. Não havia registro formal de grande parte dos sentimentos de Clara, mas muito deles ficaram nesse quarto que hoje habito. Nem todos imateriais.

Hoje sinto Clara de diversas maneiras, mas tudo começou com rabiscos em uma folha de papel encontrada em um armário embutido da cozinha. Não fazia muito sentido ter sido guardado, parecia algo esquecido junto com louças, que de tão velhas, não pude utilizar.

Há homens grandes pensando no amor,
E isto não é uma questão de estatura,
Hoje chorei ao pensar junto na ternura
De um pequeno grande ator.


De fato eram rabiscos. Ao lado do pequeno texto, coisas sem sentido, provavelmente escritas quando Clara falava ao telefone. Nomes de pessoas de cabeça pra baixo, com desenhos abstratos e números tentando dar uma ordem à bagunça feita.

Esse foi o primeiro contato que tive com a menina que sabia voar, sobretudo quando os sentidos se harmonizavam.

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