quinta-feira, setembro 7

A janela de Clara

Sentada nessa mesma posição, olhando pra mesma mata, pensando também em andar pelo telhado, procurando o mico que outrora vira e embargando a voz pra pronunciar o nome de quem, há pouco, estivera com ela olhando a mesma mata.

A menina que nessa casa morou, fruto da minha imaginação, também pensava nos que antes dela aqui estiveram, sonhando com um mundo dos que sonham, dos que acreditam que constroem a história, dos que constroem. Sonhos não envelhecem nem morrem.

A menina de cabelo curto desalinhado, de traços fortes, porém delicados, captava os sonhos dos que antes dela estiveram aqui. Sonhos que ficam no ar, que não a deixava esquecer a sua continuidade no mundo, mesmo sabendo que um dia também viraria pó. Clara não se conformava com a estupidez dos que, não entendendo a citada continuidade, destruíam as condições físicas do planeta, que a cada dia se mostravam mais perecíveis.

Clara gostava da mata que olhava pela sua janela, a via como uma faixa de resistência à destruição das condições físicas do planeta. Homens, cada vez mais egoístas e burros, sabendo da sua limitação física na terra e não entendendo a continuidade dos seus sonhos, ameaçavam toda a existência e a afirmação de que os sonhos não morrem. A limitação física do planeta ameaçava a eternidade dos sonhos de Clara e dos que antes dela aqui estiveram, sentados nessa mesma posição, olhando pra mesma mata, pensando também em andar pelo telhado, procurando o mico que outrora viram e embargando a voz pra pronunciar o nome dos que, há pouco, estiveram com eles olhando a mesma mata.

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