quinta-feira, agosto 4

Astrid

Chegou em casa com uma atormentada sensação de falta de sensação. Tinha vontade de pular na cama assim que a visse. Desesperou-se ao perceber que havia vários objetos em cima dela que não poderiam ser arremessados no chão de qualquer maneira. Nem que fosse para fazer uma cena bacana antes da transa com a atriz de “5 rapazes em Liverpool”. Nem por ela poderia arremessar seu estimado violão no chão, muito menos sua guitarra de raios azuis discretos. O que será que faziam o violão e a guitarra em cima da cama? Não lembrava de tê-los colocado lá. Será que tiveram uma transa bacana? Será que arremessaram no chão alguns objetos que ali estavam antes deles?

Pensou: “Não seja bobo, isso não é necessário e violões não transam com guitarras. Ou transam?”. Se a guitarra tiver aqueles olhos pode ser que transem, mas esses raios azuis são muito discretos. Pensou que talvez o violão pode ter se apaixonado justamente pela discrição. E também pensou que eles não precisavam estar apaixonados para darem uma trepadinha. Um sexo casual entre um violão e uma guitarra é algo esquisito, porém compreensível.

Retirou-os com um certo cuidado da cama, mas não o merecido. Era tarde, era frio, faltava sensação e queria enfiar a cabeça no travesseiro. Queria esquecer de esquecer. Queria não precisar esquecer nem fazer jogos de palavras pra esconder o real sentido das coisas, que nem ele sabia qual era.

Dormiu pensando que só perde um amor quem ama, ou pelo menos quem amou. Sonhou com raios azuis discretos. Acordou com alguma sensação.

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