domingo, abril 3

Amor mimado

Era tão bonita, mas tão bonita, tão doce, tão especial, tão inteligente, que queria compartilhar a admiração plena que tinha com todos amigos próximos. Tentava explicar e não obtinha os êxitos desejados. Uma já conhecida mania de não conseguir compartilhar consigo mesmo os prazeres que a vida o dava. Precisava dizer, precisava gritar, berrar, espernear. Sempre fora mimado, amado, mimado amado, quase sinônimos, tratando-se de amor-mimor materno.

Racionalizava, mas não resolvia. Continuava tentando fazer que enxergassem por meio de palavras. Não era possível. Suas palavras não poderiam ser belas como tão fina flor. Precisava fazer com que a vissem. Não haveria erro. Diante de tamanha beleza e doçura não exitariam.

Pois exitaram. Não enxergaram o sorriso doce, dissimulado, escondendo uma inocência já vivida. Não perceberam o olhar, que fingia ser sério para tentar disfarçar a beleza que a vida a ela reservara. Não podia esbaldar, tão próxima a tamanha miséria e mesquinhez, todo o seu talento.

Mesmo quando ela não dissimulava – ele a conhecia bem - não conseguiam perceber que o que dizia era a mais pura verdade - a beleza da vida materializada. Não, não. Simplificavam tudo, racionalizando com seus estúpidos métodos de conhecer a vida e as pessoas. Eles não sabiam nada porque não sabiam nada. Entenderam? Nunca souberam nada. E não saber nada implica em não saber nada. Isso só muda se um dia souberem alguma coisa. E se vocês guiarem-se pela lógica formal, perceberão que eles nunca saberão nada. Entenderam?

Deixa pra lá, o que importa é que percebera que só ele a via como era. A via como merecia. Ninguém mais. Não queria terminar com um ditado popular, nem na forma, muito menos no sentido. Nenhum preconceito, apenas piegas demais. Mas tivera a certeza de que apenas seus olhos eram capazes de enxergar o óbvio. Óbvio apenas para ele. Seus olhos viam e de tanto ver, tornaram-se tão doces como o olhar cruzado, dissimulado, doce, com a inocência já vivida escondida. Reteve toda aquela beleza e não se satisfez. Achou que seria capaz acumular mais e mais e mais e mais....Achou, amou, mimou, quase sinônimos tratando-se de amor-mimor platônico.

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