quarta-feira, julho 20

Em busca da terra do nunca

- Eu quero uma música, eu quero uma música, eu quero uma música que fale disso. Que fale desse querer infantil, meio tolo, que é querer uma música. “Uma” não, “A”. Eu quero a música. A música! Que fale desse jeito bobão, meio gago, de repetir que eu quero “a” e não “uma”.

- Ela não existe, ela não existe. Cada minuto, cada sentimento novo, cada microsegundo é uma música diferente. Não procure a música, nem que seja dentro de ti, porque como constatou a Clarice, cada coisa tem um instante em que ela é. O microsegundo que passou era uma música, agora já é outra, que já passou também. É o instante-já da Clarice. O “instante-já” é mais rápido do que o “de repente, não mais que de repente”.

- Impossível, nada é mais rápido do que aquilo. E deixa eu buscar a música. A música, A! Você aí, imitando o meu modo de repetir, também busca suas explicações nos livros. O instante que a Clarice escreveu isso também já passou. Talvez não faça mais sentido, talvez só faça sentido pra alguns, talvez só pra você. Aceite que certos sentimentos já existiram e não me venha com suas teorias ineditistas. Nada é tão novo e eu quero encontrar respaldo, conforto em alguma música. Em alguém que já tenha sentido o mesmo.

- Você quer encontrar conforto pro seu sentimento ou quer encontrar um sentimento já sentido? Porque dessa maneira você não molda sua vida, ou melhor, você a molda baseado em sentimentos alheios, porque assim é mais fácil. Sinta, sinta, sinta, me deixe repetir como você e só sinta. O resto vem. Ou vai. Sentindo vem a sua música, que mudará e moldará. Não tente encontrá-la a não ser que queira apenas uma aprovação pro que sente.

- Talvez seja isso, talvez você tenha razão. Talvez não. Caso sim, qual o problema de buscar a aprovação ou uma experiência parecida? É difícil ser pioneiro, até num sentimento, é difícil admitir isso, mas eu quero, por vezes, saber o que devo sentir. Nossa, que coisa horrível que acabei de falar. Você ouviu? Era melhor ter falado sobre o “caso não” pra evitar atos falhos como esse. Buscar aprovação no que sente é tão ruim assim?

- Só pra você. E é muito ruim pra você. Muito, muito, muito. Acho que só você pode fazer idéia do quanto. É só parar pra pensar no que tem se passado nessa caixola. Reprovação do que sente? Não minta, nem tente dizer que o que sente é demente, pois demente é querer demonizar o que sente.

- Uou, o papo da música tava melhor. Achei, ó só: “apenas te peço que respeite o meu louco querer”. E mais essa frase aqui “apenas te peço que aceite o meu estranho amor”. Viu?

- Vi, é você quem tem que respeitar e aceitar. Só você!Deixa de ser egocêntrico a ponto de achar que as pessoas se preocupam tanto com o que se passa com você. Só você, só você, só você. E eu preciso parar de ficar repetindo as palavras feito um idiota.

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