terça-feira, setembro 20

Água Viva

Sábado de sexta mal dormida. Uma rede úmida. Um ela chamado Clarice. Busco o instante matematicamente com o delta t tendendo a zero. Busco o instante da vida, quando o cantar do passarinho é. Não é uma pausa. Ele é e continua sendo. A vida é feita de instantes. Feita de “É”s. A vida vale a pena quando feita de “É”s bonitos. Essas frases bobas são bobas, mas são partes dos meus “É”s de sábado de sexta mal dormida e me recuso a apagá-las.

“Estava com saudades das novidades do sonho”. No sonho se é e mais nada. E justamente por ser, e apenas ser, me liberto de amarras e me embasbaco muitas vezes ao me deparar com gênios dentro do meu sonho. Gênio por ser, apenas por ser e justamente por ser. É gênio quem é e só se preocupa em ser. Não em ser gênio. Ser apenas. A preocupação de ser gênio não é uma preocupação de ser, e sim de ser gênio.

Ser. Ser (ponto).

“Lembrar-se com saudade é como se despedir de novo”. Prolongamos despedidas quando queremos que nossos “É”s continuem sendo. Queria me despedir das despedidas. Ao invés do sou, vivo no fui. Fui. Quero ir. Quero dizer fui pra ser. Ser. Ser(ponto). Ser um ser. Pra ser um ser, preciso ser. E apenas ser (ponto).

“Violeta diz levezas que não se podem dizer”. É na sutileza que se arrebenta. Prefiro um tapa na cara. A sutileza é uma falsa indiferença. Cruel.

“X – o instante impronunciável”. É impronunciável.

“E eu estava só, sem precisar de ninguém. É difícil porque preciso repartir contigo o que sinto”. Falsa ilusão, humanóides!

A busca para entregar-me aos instantes me faz perder diversos instantes. “Realizo o realizável e o irrealizável eu vivo”. Presença leve. Levíssima. Quero gozá-la.

Vivo. Viva. “Traga-me um copo d´água”. Pode me matar.

(Em aspas, trechos de água viva - Clarice Lispector)

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