sexta-feira, setembro 23

Relatos ancestrais do ano de 2005

O elenco de Kids anda invadindo os lugares que freqüento. A “modernice” anda mais moderna que a modernidade. Dentro dessa modernice, os homens continuam livres, leves e soltos para fazer o que lhes convém. As mulheres continuam sofrendo com os seus desejos e pagando caro com o peso da culpa quando cedem. Alguns preconceitos ancestrais andam sendo vencidos, outros estão virando modernices. Correndo o risco de parecer reacionário, afirmo que o rock está cada vez mais reacionário. Acontece que a revolução aconteceu nos anos 60 e 70 e nada perto disso foi produzido nos anos subseqüentes. Há espasmos interessantes, mas o Jimmy Page continua sendo capa de jornal.

A gente se olha, se toca e se cala, mas continua se desentendendo no instante em que fala (Belchior, 1978). Meus velhos amigos continuam novos. As meninas continuam interessantes, apesar da culpa e da modernice exacerbada, chegando ao extremo nas danças em frente à caixa de som. O visual não é acompanhado de atitude. As atitudes ainda vestem calça boca de sino.

Minha mãe continua fazendo aniversário. Eu continuo o mesmo. Não, não, não. Eu ando mudado. Mudado e mudando. Particípio e gerúndio. Ando pensando em sair de casa para uma outra casa, na qual as dificuldades venham a me facilitar as coisas.

Ando pensando em paz. Ando pensando em rede. O mundo continua rápido. As frases continuam curtas, como os cabelos. E as palavras continuam parcas. Ou será que é o impronunciável que continua extenso?

Continuo. E descontinuo. A vida, a história e a música são feitas de ruptura e continuidade. Sou uma ruptura contínua. Envelheço para o novo.

Continuo amando.

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